terça-feira, 19 de março de 2013

Governo estimula e mercado editorial investe em obras

Fonte: Abrelivros - 21/02/13
Neste ano, pela primeira vez, o Ministério da Educação vai permitir às editoras inscrever livros didáticos totalmente digitais no Plano Nacional do Livro Didático (PNLD). O edital foi publicado no início de 2013 e deve ser concluído em 2015 com a compra de material didático para o Ensino Médio. Hoje, os conteúdos digitais são um complemento não obrigatório das obras físicas. A nova regra do edital reforça a estratégia do governo de digitalizar a educação pública brasileira, um mercado que movimentou mais de R$ 3,5 bilhões na aquisição e distribuição de obras didáticas nos últimos três anos.
A aquisição prevista para o PNLD 2015 é de cerca de 80 milhões de livros didáticos, que devem beneficiar mais de 7 milhões de alunos do Ensino Médio de 20 mil escolas de todo o País. A inscrição das obras em formato digital também não é obrigatória, mas pode se tornar uma vantagem competitiva. "Se as editoras não inscreverem conteúdos digitais, elas não serão excluídas, mas também podem não ser escolhidas", pondera Karine Pansa, presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL).
Atento às novas diretrizes, o mercado editorial tem feito investimentos milionários na produção de conteúdos didáticos digitais como vídeos, animações, simuladores, imagens e jogos para uso em sala de aula. Para Karine, da CBL, a inclusão de conteúdos digitais complementares no PNLD 2014 foi um primeiro empurrão. Com as inscrições das obras, o vice-presidente de comunicação da instituição, Hubert Alquéres, acredita que o Brasil caminha aceleradamente para a adoção de recursos digitais educativos.
De acordo com o edital do PNLD 2015, as editoras deverão garantir a infraestrutura para distribuição, pela internet, dos livros digitais e sua padronização para uso em dispositivos como noteboks e tablets.
Com investimento de 22 milhões de euros, o sistema de ensino Uno Internacional, do grupo espanhol Santillana, começa a atuar no Brasil neste ano letivo com conteúdos digitais especialmente feitos para tablets. A maior parte dos custos da empresa, que tem uma parceria com a Apple, foi na aquisição de 17.900 iPads. "Em 2013, investiremos R$ 20 milhões no aperfeiçoamento do nosso modelo, que conta atualmente com 71 mil alunos.
Pretendemos, até 2016, alcançar 320 mil alunos, inclusive em escolas públicas", disse Ricardo Rubio, vice-diretor da companhia.

A Editora Positivo pretende inscrever todas as suas obras também no formato digital no PNLD 2015. "Quando o governo sinaliza isso (a produção de conteúdos digitais), o mercado se move nessa direção", diz o diretor da empresa, Emerson Santos. "Como ele é o maior comprador, fomenta e traz para mesa essa demanda". Além disso, a empresa está trabalhando em novos formatos para celulares, como um curso da nova ortografia da língua portuguesa que deve ser lançado em março.
Investir em conteúdos digitais também é prioridade para a Pearson neste ano.
De acordo com Tadeu Terra, diretor de mídias e conteúdos digitais da empresa, o investimento nessa área tem crescido ano a ano - assim como o faturamento. "Estamos em uma fase de expansão devendas para o governo, e, no próximo PNLD, aumentaremos nossa participação", afirma o executivo.
O grupo britânico, que, em 2010, adquiriu por R$ 888 milhões os sistemas de ensino COC e Pueri Domus, da rede privada, e Name, da rede pública, pretende digitalizar todos os seus conteúdos até o final deste ano. Segundo Terra, a produção desse tipo de conteúdo multimídia é mais cara do que a do livro impresso. Mas o investimento inicial é compensado pela facilidade de distribuição e atualização do conteúdo. "O custo de impressão passa a não existir mais, e há uma maior praticidade no manuseio, no armazenamento e na atualização das informações", diz o consultor João Vianney, da Hoper Educação.
A editora FTD criou uma área específica para a produção multimídia e todas as obras impressas de disciplinas básicas de todos os níveis de ensino já são acompanhadas de conteúdo digital. "No PNLD 2014, por exemplo, envolvemos 200 pessoas na produção de conteúdos digitais, o que dá uma ideia da importância dessa indústria", afirma Fernando Moraes, gerente de inovação e novas mídias da empresa. Quase metade da venda de livros didáticos da editora é voltada ao governo.
A guinada digital pode afetar a receita do mercado de livros didáticos tradicionais, mas há um consenso de que, assim como em outras indústrias, a mídia impressa irá coexistir com a digital a médio prazo. "Essa mudança de cenário não será abrupta", afirma Sérgio Quadros, presidente da Associação Brasileira de Editores de Livros Escolares. Segundo ele, as obras educacionais adquiridas são majoritariamente impressas, mas todas as escolas já pedem conteúdos digitais e os investimentos na área estão no foco das grandes editoras.

Nenhum comentário:

Postar um comentário