Evento
discute soluções para apresentar inovação disruptiva. Mas será que o disruptivo é a inovação?
Por Fábio Sabbag - editor da Revista Graphprint
Para compartilhar conteúdo
sobre inovação tecnológica, a Associação Brasileira de Tecnologia Gráfica
(ABTG) e a APS Feiras promoveram o Congresso Internacional de Tecnologia
Gráfica, evento realizado no dia 24 de agosto, no Espaço Milenium, em São
Paulo. Mais de 200 profissionais do segmento de comunicação impressa marcaram
presença para entender a visão de especialistas e compartilhar conceitos de
inovação com o mercado.
"A partir do início do
evento e até o final da última palestra, recebemos um feedback crescente e
positivo de diversos participantes sobre o acerto na grade de temas e
abordagens apresentadas nas palestras, permitindo assim momentos de reflexão
sobre os reposicionamentos necessários de nossa indústria, tanto nas questões
estratégicas quanto nas mercadológicas. Por fim, ficamos com a certeza de
incluir o congresso de forma permanente no calendário de nosso setor”, diz
Francisco Veloso Filho, presidente da ABTG.
Ressoante em diversas
palestras, o termo, ação ou circunstância conhecido como disruptivo foi a bola
da vez durante o dia. Trata-se de uma pequena palavra que (ainda) não existe na
língua portuguesa, mas que tem transformado o mercado e as relações
empresariais em todo o mundo: disrupção.
O termo, que foi criado pelo professor de Harvard Clayton Christensen, é
utilizado para descrever inovações no mercado, nos consumidores e,
consequentemente, nas empresas e na forma de se relacionar com os
colaboradores. É uma mudança geral de comportamentos.
Note, porém, que ser visto
como disruptivo exige disposição, talento e ousadia. A atmosfera do congresso,
neste sentido, acabou criando um elo robusto para que a fase disruptiva entre
no mercado gráfico de vez. É certo que as pessoas, que tiveram a oportunidade
de acompanhar as palestras, ministradas por estrangeiros e brasileiros,
buscavam o sentido da inovação. Cabe agora fazer a lição de casa, sair do
lugar-comum.
Observe que de uma forma
simples, porém funcional, o ato de ser disruptivo é encarado como algo inovador
que na prática derruba barreiras tecnológicas e abre fronteiras criativas.
Trata-se de um palco livre para a troca de ideias, fundamentadas em conceitos
sem grandes pragmatismos e com foco na customização. Durante o Congresso
Internacional de Tecnologia Gráfica, a indústria gráfica foi convidada a semear
projetos e atitudes que podem, num presente rápido, virarem disruptivos. E
agora? Sua empresa está preparada para entrar nesta plataforma plural e
tangível?
Logo na primeira
apresentação do evento, Andreas Weber, presidente da Value Academy (consultoria
estratégica para negócios em comunicação) foi a fundo para falar sobre
“Inovação tecnológica e inovação de Marketing – Gestão da tecnologia para
responder às tendências de mercado”. “Investir em tecnologia somente é
perigoso. É preciso inserir e explorar o poder da inovação dentro da empresa.
Sem foco é complicado trabalhar, o conhecimento leva ao comprometimento. É
preciso criar projetos em conjunto com os clientes e aceitar o desafio de
aprender com os melhores. Para transformar o seu negócio é preciso modificar a
sua postura criando demandas para necessidades específicas. A empresa precisa
ser multicanal, compartilhando mensagens relevantes, porém simples nas redes
sociais”, disse Weber.
Na sequência foi a vez de
Emilio Corti abordar o tema “Tendências Tecnológicas no segmento de
embalagens”. Corti é executivo de marketing e vendas da Bobst desde 2003 e
diretor mundial da unidade de negócios de equipamentos a folha e membro do
conselho de administração do grupo. Foi também diretor da Bobst América Latina
e gerente geral da Veja, nos EUA, empresa italiana fabricante de equipamentos
para conversão de cartões e ondulados, além de ex-professor visitante na
Universidade de Bologna. Segundo o palestrante, o setor de embalagens apresenta
indicadores de crescimento em países menos desenvolvidos e novos materiais
estão sendo estudados para alcançar o modo sustentável. “Há uma pressão maior
sobre os donos da marca para melhorarem o ‘shelf appeal’ do produto que está
conduzindo o desenvolvimento das técnicas e tecnologias de impressão entre os
convertedores. O uso de cores e uma gama maior de acabamentos encorajam novos
cenários dentro do setor de embalagens, além dos desafios de impressão, como
‘wash boarding’. Neste caminho, o processo de rotogravura vai perder espaço
para lito e flexo. Há ainda claros indicadores de crescimento da impressão
digital dentro do setor de embalagem”, disse, entre outros vários pontos
discutidos, Corti.
Ainda de acordo com Corti, a
embalagem pronta para o varejo é uma tendência nos EUA. O executivo da Bobst
ressaltou ainda que as regulamentações estão cada vez mais exigentes sendo que
a impressão e o acabamento terão de atuar de acordo com as regras.
Antes do almoço, Sandro
Sandro J. Cardoch, engenheiro, empresário e mentor, com mais de 20 anos de
experiência em um amplo espectro de aplicações industriais, falou sobre
“Alternativas para produção de rótulos e etiquetas de alta qualidade”. O
diretor comercial para a América Latina da Smag Graphique trouxe ao congresso as
técnicas de impressão e de acabamentos que coordenam gráfica e convertedor na
criação de soluções exclusivas.
Hamilton Terni Costa recebeu
a tarefa de evitar a famosa sesta pós-almoço. Brincadeiras à parte, o diretor
da AN Consulting, diretor para América Latina da NPES, ex-presidente da ABTG e
um dos criadores do curso de pós-graduação Gestão Inovadora da Empresa Gráfica
na Faculdade Senai Theobaldo De Nigris, onde ministra as matérias de Gestão
Estratégica e Marketing Industrial, chegou animado para falar sobre gestão da
tecnologia na inovação de produtos com serviços.
Na abertura da sua
apresentação, Costa convidou a todos a entrarem na era da ‘servitização’. Sim,
servitização. É um termo acadêmico usado basicamente para definir como produtos
e serviços podem usar plataformas diferenciadas com o objetivo de entregar
soluções cada vez mais adequadas. “A quantidade de produtos ao nosso alcance é
grande, por isso os produtos e serviços precisam estar encaixados com a
demanda. Há uma nova era de compartilhamento de coisas, produtos e serviços.
Carro compartilhado nos EUA, por exemplo, já é realidade, sendo um serviço
disseminado como rastro de pólvora. A GM já apresentou serviço de Concierge
dentro do carro. A ideia é usar produtos como plataformas adicionais. Isso é o
processo de servitização”, considerou o palestrante.
Outro ponto apresentado por
Hamilton foi como a transformação acaba sendo um processo de mudança de
mentalidade: “Começa na cabeça e termina na cabeça. Mudanças de mentalidade e
estrutura estão juntas. Um fabricante passa a ser provedor de serviços
alterando funções de acordo com as novas necessidades. Já não dá mais para ser
uma gráfica de venda transacional que pega o orçamento, precifica, concede o
desconto e tenta fechar o pedido. É importante trabalhar dentro do cliente,
atento ao desenvolvimento do negócio dele. A mudança radical pode ser
disruptiva quando começa a mudar o setor. Consequentemente o radical pode se
transformar no disruptivo.”
Hamilton aproveitou a
oportunidade para provocar os participantes do congresso a se transformarem em
fornecedores de serviços avançados. “Sair do ato de ser reprodutor de originais
para fornecer serviços e marketing na comunicação crossmedia. É preciso
repensar o negócio, desde que haja vontade para repensar. A empresa precisa ser
eficiente sem deixar de estar antenada aos processos anteriores, aproximando-se
assim do que chamam de impressão 4.0, a internet das coisas. Antigamente,
comprávamos máquinas que duravam 20 anos. Hoje os equipamentos estão mais
flexíveis, assim como as novas plataformas, que podem ser construídas para
determinados mercados. O negócio é dinâmico e os movimentos não estão
reservados somente para as grandes empresas”, considerou Hamilton.
Alexandre Keese entrou no
palco para falar sobre impressão funcional e industrial com foco na
diversificação de substratos que podem ser impressos atualmente. Keese explicou
que o mercado atual demanda por mais trabalhos, porém com tiragens menores e
mais personalizadas, com a indústria passando da produção em massa para a
personalização em massa. O palestrante
passou ainda pelos mais diversos conceitos de impressão industrial,
impressão funcional e impressão de eletrônicos, ressaltando suas características,
diferenças e oportunidades, além de destacar o crescimento do mercado têxtil
nos últimos tempos.
Clóvis Pires Castanho, COO
da Arizona, empresa que atua em pré-media e soluções para marketing, com
clientes no Brasil e América Latina, falou sobre crossmedia, pré-mídia e
convergência de tecnologias. De acordo com Castanho, o pensamento estratégico é
fundamental para ajudar o cliente a vender. Dentro desta visão, o conhecimento
e uso de softwares têm grande importância para agilizar o fluxo de trabalho e
oferecer novas possibilidades e o desenvolvimento de campanhas mais
diferenciadas. O especialista trouxe uma série de informações e dados sobre a
evolução do mundo digital, mostrando que o empresário que não entender a
mudança vai ficar para trás. São tecnologias existentes que vêm avançando, tornando-se
menores em tamanho, mais rápidas e mais baratas, ampliando o acesso à
tecnologia no geral. Isto não será diferente com a impressão, que deve estar
sempre integrada às revoluções tecnológicas.
Por fim, Rainer Wagner,
apontou as tendências tecnológicas até 2020.
Wagner é engenheiro gráfico pela Universidade de Munique (Alemanha) e
consultor técnico e especialista em estandardização e automação da produção
gráfica, com clientes nos Estados Unidos e América Latina. É membro do Fogra,
instituto alemão de pesquisa em impressão). Ele ressaltou que a América Latina
vem fazendo muitos investimentos no segmento em equipamentos novos de impressão
e acabamento. Ele fez uma passagem sobre as novidades em impressão digital,
flexografia banda estreita, offset, acabamento e enobrecimento digital, 3D e
outros desenvolvimentos das grandes companhias, como nanografia e softwares de
web-to-print. Mesmo apresentando uma série de desenvolvimentos em equipamentos,
deixou claro: “O futuro será feito por pessoas.” As apresentações das palestras
poderão ser encontradas no site da ABTG: www.abtg.org.br
O Congresso Internacional de
Tecnologia Gráfica foi finalizado com uma mesa-redonda. O mediador foi o
diretor técnico da ABTG, Manoel Manteigas de Oliveira. Participaram da mesa
Kleber Rodrigues, gerente de vendas da Kodak; Fabiano Peres, supervisor de
revendas da Canon; Rogério Gomes, gerente de serviços técnicos da Hubergroup;
Alexandre Dalama, diretor da Rotatek; Paulo Faria, diretor geral da KBA, e
Melchior Trueeb, gerente de vendas da Müller Martini.
Dentre os vários temas
tratados na mesa-redonda estiveram: sustentabilidade, a importância de
diversificar o leque de produção, a dificuldade de atrair jovens talentos para
o mercado gráfico, questões de sucessão nas empresas, importância da tecnologia
na produção de valor, as tendências one-to-one com a impressão digital, a
integração de sistemas inkjet, o cuidado com perdas de insumos, a importância
da capacitação e pensamento estratégico.
Ao fim das
apresentações paira no ar o desafio de levantar da cadeira em busca de desafios
disruptivos. Ou será que o disruptivo é o desafio? Ainda não sabemos a
resposta, mas foi um dia intenso de trabalho baseado na troca de informação do
mundo gráfico. Evidentemente não é possível resolver todos os problemas ou
encontrar todas as soluções em um dia.
Sim, o Congresso Internacional de
Tecnologia Gráfica chegou em boa hora.
A partida começou.