Em um país onde metade da população ainda não aderiu à leitura, alguns escritores ainda despertam interesse com suas obras incorporadas ao imaginário popular. A pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, feita pelo IBOPE Inteligência a pedido do Instituto Pró-Livro (IPL) e divulgada este ano, trouxe, entre outras informações, os nomes dos 25 autores mais admirados pelos brasileiros. Na lista, estão escritores de estilos e épocas diferentes da literatura nacional.
Em primeiro lugar entre os mais admirados do Brasil está Monteiro Lobato. O paulista, precursor da literatura infantil no País, fez história no imaginário popular com seus personagens fabulosos e oníricos, disseminados nas páginas de livros e também na televisão. Mas para alguns críticos, é na universalidade da linguagem do autor que reside a maestria da sua obra.
“A popularidade de Lobato deve-se exclusivamente a sua capacidade de falar tanto às crianças das metrópoles como àquelas que vivem na pequena cidadezinha do interior do país. Lobato abarca a experiência urbana e também a vida rural”, defende Augusto Massi, professor de literatura brasileira da USP.
Para o especialista, mais do que a televisão, o trabalho nas escolas primárias com os textos do autor explica o primeiro lugar alcançado na pesquisa. “Foi um trabalho de longa duração, num ritmo lento e constante que fez com que a literatura de Lobato penetrasse fundo no imaginário brasileiro”, completa.
Já na segunda posição da lista dos mais admirados do País figura Machado de Assis. Famoso por sua ironia e sarcasmo, o escritor é um ícone para o realismo brasileiro, corrente literária que tem início oficial com a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas, em 1881.
“Sem Machado de Assis e a densidade de sua obra, a literatura brasileira teria bem mais dificuldades de superar o naturalismo e o experimentalismo rasos”, explica Luiz Roncari, livre docente em literatura da USP.
Mas se Machado de Assis é referência para uma literatura vinculada à realidade e à sua crítica, o próximo colocado da lista dos escritores mais admirados traz um nome ligado ao ocultismo e esoterismo.
O autor brasileiro mais vendido e traduzido no mundo ocupa a terceira posição do ranking. Polêmico pelos temas que aborda em suas obras, o escritor, apesar de querido, divide opinião entre os críticos. “Paulo Coelho é uma literatura de evasão, é isso que muitos querem. Há quem prefira assistir a televisão a ler um livro que fale da miséria de sua vida, é mais fácil”, afirma Roncari.
Mas para o professor Augusto Massi, o sucesso do escritor está ligado ao desejo das pessoas. “Os temas abordados nas obras de Paulo Coelho têm um alcance universal. Milhares de pessoas realizam anualmente o Caminho de Santiago de Compostela. Certamente, “O diário de um mago” narrado de forma direta e simples, funciona como uma caixa de ressonância desta experiência de peregrinação. Outros livros tratam de temas que têm um lugar assegurado nas listas de mais vendidos: bruxas, demônios, compilação de frases etc. No mundo todo existe um público ávido para ler esse tipo de obra”, complementa.
O sucesso em termos mundiais também aparece em torno do nome que ocupa a quarta posição da lista: Jorge Amado. O escritor já foi traduzido para inúmeras línguas, levando o universo da Bahia às mais remotas regiões do mundo.“Jorge Amado é um sedutor de mão cheia, com a pitada certa de política, culinária, erotismo, viagens, boêmia, imigrantes etc. Reforçando tal estratégia, os personagens de uma obra reaparecem em outra, criam elos, enredos, redes de relações que nos levam a revisitar sempre o conjunto de sua obra. Como bem observou o crítico Antonio Candido, Jorge Amado explora com riqueza um universo restrito”, afirma Massi.
Por fim, na quinta posição está o poeta Carlos Drummond de Andrade. Considerado um autor modernista, mas que está além das classificações, o escritor produziu poesia irônica, social e metafísica. A abordagem dos dilemas humanos é a temática geral de sua obra e fonte da riqueza dos seus versos.
“Nenhum outro poeta brasileiro conseguiu penetrar em regiões tão pouco exploradas dentro da nossa tradição literária, como a poesia de caráter político ou filosófico. Somente em Drummond encontramos uma dicção reflexiva capaz de abranger tanto a poesia militante de Rosa do Povo (1945) como a lírica meditativa de Claro Enigma (1951). Ele mesmo tinha consciência disso ao afirmar: cansei de ser moderno, agora quero ser eterno”, reflete Massi.
Os demais escritores citados na pesquisa por ordem de menções são Maurício de Souza , José de Alencar, Vinícius de Moraes, Zibia Gasparetto, Augusto Cury, Érico Veríssimo, Cecília Meireles, Chico Xavier, Padre Marcelo Rossi, Ziraldo, Manuel Bandeira, Paulo Freire, Fernando Pessoa*, Clarice Lispector, Ariano Suassuna, Graciliano Ramos, Mário de Andrade, Mário Quintana , Silas Malafaia e Pedro Bandeira.
Sobre a pesquisa
A pesquisa foi realizada de 11 de junho a 3 de julho de 2011. Ao todo, foram 5012 entrevistas domiciliares, em 315 municípios de todos os estados brasileiros. A margem de erro do estudo é de 1,4 pontos percentuais para mais ou menos, com um intervalo de confiança estimado de 95%.