Idealizada pela Associação dos Agentes de Fornecedores de Equipamentos e Insumos para a Indústria Gráfica (Afeigraf), a Trends of Print Latin America 2012, realizada de 20 a 21 de setembro, no WTC Convention Center, em São Paulo, deixou latente duas certezas que, durante o evento, se tornaram absolutas: há um mar, por enquanto infinito, de oportunidades em relação à impressão digital e a escassez de mão de obra (especializada) pode comprometer sua evolução
Dieter Brandt, atual presidente da Afeigraf para a gestão 2012-2014, durante o discurso de abertura, enfatizou o excelente cenário econômico pelo qual passa o Brasil: "Estamos em uma época de muita bonança, tanto na área econômica, de avanços tecnológicos, de grandes eventos e também de uma indústria forte, unida e organizada. Este é o momento. Vamos consolidar a nossa força e mostrar nossa liderança para todo o mercado nacional e internacional."
O presidente da Afeigraf destacou que a conferência deu acesso a informações importantes. “É um evento que traz conhecimento e pessoas de alto nível e, além disso, é uma preparação para a ExpoPrint Latin America", completou. Na opinião de Ismael Guarnelli, diretor da APS Feiras & Eventos, empresa organizadora da Trends of Print e dos eventos ExpoPrint Latin America 2014, ExpoPrint Digital 2013 e FESPA Brasil 2013, a Trends of Print revelou-se um evento importante para que o profissional gráfico possa se planejar e conhecer novas soluções em um mundo em mutação, mudanças plenas e profundas tanto em relação a equipamento, quanto ao mercado. “Esse é o sucesso do evento: saber transformar desafios em oportunidades ao formar uma indústria gráfica unida em volta do compartilhamento de informações e principalmente de soluções", falou.
A maioria dos palestrantes, salvo raras palestras focadas em assuntos comerciais, mostrou como lidar com os novos tempos. As apresentações serviram para refletir como a indústria gráfica lidará com os novos substratos. Comprovou os sinais evidentes dos novos tempos, sejam assustadores ou não.
É verdade que por um lado há gráficos que já navegam na onda da impressão digital com louvor. Alguns descobriram que áreas como Tecnologia da Informação e designers de novos substratos resultam em demanda de impressão. E que, quando bem instruídas, podem, inclusive, fidelizar o cliente.
Péricles Augusto de Cenço, diretor de operações do Grupo RBS, que participou da concepção, implantação e instalação do parque gráfico Jayme Sirotsky, considerado um dos mais modernos da América Latina, por meio da palestra “Um caso de sucesso no Sul do Brasil” evidenciou que é no papel impresso que se difunde o presente do conglomerado. “Nos EUA, o processo de digitalização está mais acelerado; no Brasil é impossível não investir no papel. Definitivamente é o papel que traz os leitores, constroi uma marca sólida e com identificação. A comunicação impressa garante o volume de acessos na internet. Na rede nem tudo é relevante e verdadeiro. O papel é um ativo importante que leva o leitor para a internet e traz credibilidade aos diferentes meios”, falou de Cenço.
O diretor de operações do Grupo RBS disse ainda que o jornal Zero Hora, nos últimos dez anos, cresce 1% ao ano. “Nos jornais populares as oscilações são maiores. Sabemos, porém, que o negócio tem limite, mas até agora temos obtido sucesso”, completou.
Na sequência, Fernando Alperowitch, diretor HP Indigo America Latina, abordou o tema “Impressão digital: fazendo história de novo?”. Alperowitch começou a apresentação mostrando que em qualquer lançamento há os pioneiros, que apostam fortemente, e as pessoas mais pragmáticas, que preferem ver todo mundo comprando para depois investir naquilo que já não é tão novidade.
Baseando sua palestra em três pilares – globalização, inovação e sustentabilidade –, ele defendeu que agora a impressão é sob demanda para todos e grande parte dos compradores querem produtos sustentáveis. “A indústria está sendo redefinida. Há um dado que mostra a transformação e o crescimento do mundo gráfico em todas as páginas vendidas versus o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Tradicionalmente, as gráficas, há décadas, acompanhavam o crescimento do PIB. Isso mudou na década passada onde começou a haver um descolamento importante. O mundo gráfico começou a encolher e o PIB gráfico diminui e descolou do PIB dos países. É um fato preocupante e instigante. Mesmo com o descolamento há oportunidades dentro do mercado gráfico. Estou falando de impressão digital, que só aumenta, não diminui”, observou.
O palestrante da vez ressaltou que a facilidade operacional é fundamental, pois as pessoas que compram são usuárias da tecnologia e a facilidade de lidar com o provedor é o ponto principal da escolha. “A segmentação é cada vez maior e tem um impacto importante na impressão. Há produtos na HP com ciclo de vida de 180 dias. Automação é outra palavra de ordem”, disse.
Na apresentação “Tendências tecnológicas divulgadas hoje para uso futuro da indústria gráfica comercial e jornalística”, Bernhard Schreier, presidente da Drupa, falou que o futuro é baseado no diálogo com o cliente para saber exatamente qual caminho percorrerá. “Inegavelmente, a impressão sofrerá devido à mídia eletrônica e a disponibilidade imediata da informação também. A impressão comercial também será desafiada pela mídia eletrônica. O único segmento que não sentirá é o de embalagens”, opinou Schreier.
Mesmo assim, para o presidente da Drupa, as gráficas brasileiras terão oportunidades de crescimento. “Somente 105 dos gráficos atualmente são diferentes. A decisão por equipamentos digitais ou não é fundamental, pois não dá para encontrar uma máquina para tudo. Flexibilidade é uma tendência. As gráficas estão menores, mais enxutas”, falou.
Claudio Gaeta Júnior, da Agfa, profissional responsável pela introdução de diversas ferramentas de gerenciamento de informações, como lucratividade e payback de produtos e banco de dados de clientes utilizadas pelo corpo diretivo da Agfa na América Latina, tratou do tema “Como inovar e gerar novas oportunidades através da tecnologia digital”. “O marketing de pequenas tiragens está se tornando bem competitivo, pois a offset está se aproximando do digital. O mercado de personalização é outro segmento de alto valor agregado. No Brasil ainda é uma pequena parcela da população que tem computador em casa e pouquíssimos com aparelhos de bolso. A não ser que o governo intervenha, de uma forma inédita, ainda teremos bastante tempo para trabalhar com impressão. A sinalização é um mercado interessante para o brasileiro, que é muito criativo; label é outro segmento interessante, assim como embalagens flexíveis e promocional”, enumerou Gaeta.
Em paralelo, Dragon Volic, vice-presidente de marketing e vendas da Müller Martini, responsável pelo desenvolvimento de mercado das soluções digitais da fabricante suíça, discorreu sobre como o mercado de impressão digital está se desenvolvendo. Com forte atuação no desenvolvimento e introdução da solução de livros digitais SigmaLine, Volic observou que atualmente os editores estão lutando por best sellers, pois têm medo de publicar livros que não vendem. “Com as vendas de livros diminuindo, as novas publicações têm menos tempo de exposição no ponto de venda. Por isso é necessário ter um parque gráfico com alto grau de automação, com fluxo de trabalho sofisticado. O gap entre o offset e o digital está se fechando. Hoje, as empresas têm de usar o máximo da impressão digital e confiar no acabamento que as máquinas proporcionam”, avaliou.
Mauricio Carlini, gerente da Kodak para o segmento de impressão digital, mostrou ao púbico o tema marketing direto digital, as tecnologias e os canais, que de uma forma geral são relevantes e têm grande potencial, mas individualmente não garantem o sucesso do negócio. “O que é certo mesmo é que nada na indústria gráfica será como antes; muitos vão nascer e tantos outros morrerão. Há novos jeitos de se fazer receitas e o gráfico terá de descobrir. O empresário terá de ser criativo, diferente em suas ofertas. O mercado é muito focado em vender equipamento. Mas devemos olhar para o cliente de nossos clientes, ou seja, o cliente final, e pensar em como podemos satisfazê-lo, como ele pode ganhar dinheiro”, afirmou Carlini.
Carlini apontou que talvez o segredo esteja na análise e no investimento certeiro na forma de integrar a comunicação gráfica a outras ferramentas de comunicação, como mobiles, Facebook e outras mídias digitais não gráficas.
Eduardo Buck, da Canon, disse que a empresa aposta na impressão por meio de jato de tinta, pois os cabeçotes têm demonstrado uma grande melhoria. “Imagino que deve desacelerar o processo de impressão a laser com base toner e isso é bom, porque praticamente continuaremos usando os processos de impressão offset”, completou Buck.
Ainda de acordo com Buck, o caminho do sucesso não é o tipo de máquina nem a tecnologia. “O ponto é o capital humano. Falamos bastante sobre desenvolvimentos, mas precisamos capacitar nosso pessoal. Os impressores têm de estar preparados. Por outro lado é ideal que as empresas façam planejamentos estratégicos de cinco anos e parem para analisar as metas de ano em ano. Investir na capacitação dos funcionários é vital. A Canon desenvolve uma série de parcerias com identidades de classe. Há cursos de impressão digital por meio da parceria com a ANconsulting e faltam participantes para o curso”, avisou.
A Editora Scortecci é um case de sucesso e, de acordo com João Scortecci, deverá crescer mais de 20% em 2012. “A impressão digital é um grande negócio. Em sua essência, não veio para substituir nada. Ganhou mercado quando foi capaz de fomentar milhares de novos negócios e errou quando tentou substituir outros processos de impressão. Engana-se totalmente quem acredita que a impressão digital é um apêndice dentro das gráficas convencionais. Compartilhei seu desgaste, senti a falta de confiabilidade e da ausência de insumos. Compartilhei conceitos e fiz exigências de durabilidade. Entreguei ao meu cliente o que era até então possível imaginar nesse mundo. Nessa brincadeira lá se vão 30 anos. Comecei nas pequenas tiragens e entrei na cola da impressão sob demanda”, contou.
Scortecci fez questão de enfatizar que o custo Brasil assola e ameaça a indústria como um todo. “Estamos sendo comidos pela beirada; não existe mão de obra e não dá para formar profissionais de uma maneira amadora. Estamos perdendo profissionais para outros e quando o trabalhador é formado dentro da nossa estrutura e ganha outros mercados é preocupante.”
Rodrigo Abreu, presidente da Alphagraphics, alertou que o Brasil, em questão de impressão digital, está extremamente atrasado. “Nos EUA, por exemplo, 18% da demanda já é produzida por meio do web to print. Temos de parar de colocar a culpa no mercado e rever que a culpa está em nossa cultura de não apoiar ou de ter expectativa de curto prazo. Em 2012, 1% das vendas de ecomerce no Brasil vem do mobile e a projeção para 2013 é de 10%. Porém, quando falamos de impressão, qual é a demanda quem vem desse meio? Novamente detectamos que não é a impressão que vai fazer a diferença e sim o relacionamento com os clientes”, disse Abreu.