segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Disruptivo porque sim




Evento discute soluções para apresentar inovação disruptiva. Mas será que o  disruptivo é a inovação?  

Por Fábio Sabbag - editor da Revista Graphprint  

Para compartilhar conteúdo sobre inovação tecnológica, a Associação Brasileira de Tecnologia Gráfica (ABTG) e a APS Feiras promoveram o Congresso Internacional de Tecnologia Gráfica, evento realizado no dia 24 de agosto, no Espaço Milenium, em São Paulo. Mais de 200 profissionais do segmento de comunicação impressa marcaram presença para entender a visão de especialistas e compartilhar conceitos de inovação com o mercado.

"A partir do início do evento e até o final da última palestra, recebemos um feedback crescente e positivo de diversos participantes sobre o acerto na grade de temas e abordagens apresentadas nas palestras, permitindo assim momentos de reflexão sobre os reposicionamentos necessários de nossa indústria, tanto nas questões estratégicas quanto nas mercadológicas. Por fim, ficamos com a certeza de incluir o congresso de forma permanente no calendário de nosso setor”, diz Francisco Veloso Filho, presidente da ABTG.

Ressoante em diversas palestras, o termo, ação ou circunstância conhecido como disruptivo foi a bola da vez durante o dia. Trata-se de uma pequena palavra que (ainda) não existe na língua portuguesa, mas que tem transformado o mercado e as relações empresariais em todo o mundo:  disrupção. O termo, que foi criado pelo professor de Harvard Clayton Christensen, é utilizado para descrever inovações no mercado, nos consumidores e, consequentemente, nas empresas e na forma de se relacionar com os colaboradores. É uma mudança geral de comportamentos.

Note, porém, que ser visto como disruptivo exige disposição, talento e ousadia. A atmosfera do congresso, neste sentido, acabou criando um elo robusto para que a fase disruptiva entre no mercado gráfico de vez. É certo que as pessoas, que tiveram a oportunidade de acompanhar as palestras, ministradas por estrangeiros e brasileiros, buscavam o sentido da inovação. Cabe agora fazer a lição de casa, sair do lugar-comum. 


Observe que de uma forma simples, porém funcional, o ato de ser disruptivo é encarado como algo inovador que na prática derruba barreiras tecnológicas e abre fronteiras criativas. Trata-se de um palco livre para a troca de ideias, fundamentadas em conceitos sem grandes pragmatismos e com foco na customização. Durante o Congresso Internacional de Tecnologia Gráfica, a indústria gráfica foi convidada a semear projetos e atitudes que podem, num presente rápido, virarem disruptivos. E agora? Sua empresa está preparada para entrar nesta plataforma plural e tangível?

Logo na primeira apresentação do evento, Andreas Weber, presidente da Value Academy (consultoria estratégica para negócios em comunicação) foi a fundo para falar sobre “Inovação tecnológica e inovação de Marketing – Gestão da tecnologia para responder às tendências de mercado”. “Investir em tecnologia somente é perigoso. É preciso inserir e explorar o poder da inovação dentro da empresa. Sem foco é complicado trabalhar, o conhecimento leva ao comprometimento. É preciso criar projetos em conjunto com os clientes e aceitar o desafio de aprender com os melhores. Para transformar o seu negócio é preciso modificar a sua postura criando demandas para necessidades específicas. A empresa precisa ser multicanal, compartilhando mensagens relevantes, porém simples nas redes sociais”, disse Weber.

Na sequência foi a vez de Emilio Corti abordar o tema “Tendências Tecnológicas no segmento de embalagens”. Corti é executivo de marketing e vendas da Bobst desde 2003 e diretor mundial da unidade de negócios de equipamentos a folha e membro do conselho de administração do grupo. Foi também diretor da Bobst América Latina e gerente geral da Veja, nos EUA, empresa italiana fabricante de equipamentos para conversão de cartões e ondulados, além de ex-professor visitante na Universidade de Bologna. Segundo o palestrante, o setor de embalagens apresenta indicadores de crescimento em países menos desenvolvidos e novos materiais estão sendo estudados para alcançar o modo sustentável. “Há uma pressão maior sobre os donos da marca para melhorarem o ‘shelf appeal’ do produto que está conduzindo o desenvolvimento das técnicas e tecnologias de impressão entre os convertedores. O uso de cores e uma gama maior de acabamentos encorajam novos cenários dentro do setor de embalagens, além dos desafios de impressão, como ‘wash boarding’. Neste caminho, o processo de rotogravura vai perder espaço para lito e flexo. Há ainda claros indicadores de crescimento da impressão digital dentro do setor de embalagem”, disse, entre outros vários pontos discutidos, Corti.

Ainda de acordo com Corti, a embalagem pronta para o varejo é uma tendência nos EUA. O executivo da Bobst ressaltou ainda que as regulamentações estão cada vez mais exigentes sendo que a impressão e o acabamento terão de atuar de acordo com as regras.
Antes do almoço, Sandro Sandro J. Cardoch, engenheiro, empresário e mentor, com mais de 20 anos de experiência em um amplo espectro de aplicações industriais, falou sobre “Alternativas para produção de rótulos e etiquetas de alta qualidade”. O diretor comercial para a América Latina da Smag Graphique trouxe ao congresso as técnicas de impressão e de acabamentos que coordenam gráfica e convertedor na criação de soluções exclusivas.

Hamilton Terni Costa recebeu a tarefa de evitar a famosa sesta pós-almoço. Brincadeiras à parte, o diretor da AN Consulting, diretor para América Latina da NPES, ex-presidente da ABTG e um dos criadores do curso de pós-graduação Gestão Inovadora da Empresa Gráfica na Faculdade Senai Theobaldo De Nigris, onde ministra as matérias de Gestão Estratégica e Marketing Industrial, chegou animado para falar sobre gestão da tecnologia na inovação de produtos com serviços.

Na abertura da sua apresentação, Costa convidou a todos a entrarem na era da ‘servitização’. Sim, servitização. É um termo acadêmico usado basicamente para definir como produtos e serviços podem usar plataformas diferenciadas com o objetivo de entregar soluções cada vez mais adequadas. “A quantidade de produtos ao nosso alcance é grande, por isso os produtos e serviços precisam estar encaixados com a demanda. Há uma nova era de compartilhamento de coisas, produtos e serviços. Carro compartilhado nos EUA, por exemplo, já é realidade, sendo um serviço disseminado como rastro de pólvora. A GM já apresentou serviço de Concierge dentro do carro. A ideia é usar produtos como plataformas adicionais. Isso é o processo de servitização”, considerou o palestrante.

Outro ponto apresentado por Hamilton foi como a transformação acaba sendo um processo de mudança de mentalidade: “Começa na cabeça e termina na cabeça. Mudanças de mentalidade e estrutura estão juntas. Um fabricante passa a ser provedor de serviços alterando funções de acordo com as novas necessidades. Já não dá mais para ser uma gráfica de venda transacional que pega o orçamento, precifica, concede o desconto e tenta fechar o pedido. É importante trabalhar dentro do cliente, atento ao desenvolvimento do negócio dele. A mudança radical pode ser disruptiva quando começa a mudar o setor. Consequentemente o radical pode se transformar no disruptivo.”

Hamilton aproveitou a oportunidade para provocar os participantes do congresso a se transformarem em fornecedores de serviços avançados. “Sair do ato de ser reprodutor de originais para fornecer serviços e marketing na comunicação crossmedia. É preciso repensar o negócio, desde que haja vontade para repensar. A empresa precisa ser eficiente sem deixar de estar antenada aos processos anteriores, aproximando-se assim do que chamam de impressão 4.0, a internet das coisas. Antigamente, comprávamos máquinas que duravam 20 anos. Hoje os equipamentos estão mais flexíveis, assim como as novas plataformas, que podem ser construídas para determinados mercados. O negócio é dinâmico e os movimentos não estão reservados somente para as grandes empresas”, considerou Hamilton.

Alexandre Keese entrou no palco para falar sobre impressão funcional e industrial com foco na diversificação de substratos que podem ser impressos atualmente. Keese explicou que o mercado atual demanda por mais trabalhos, porém com tiragens menores e mais personalizadas, com a indústria passando da produção em massa para a personalização em massa. O palestrante  passou ainda pelos mais diversos conceitos de impressão industrial, impressão funcional e impressão de eletrônicos, ressaltando suas características, diferenças e oportunidades, além de destacar o crescimento do mercado têxtil nos últimos tempos.

Clóvis Pires Castanho, COO da Arizona, empresa que atua em pré-media e soluções para marketing, com clientes no Brasil e América Latina, falou sobre crossmedia, pré-mídia e convergência de tecnologias. De acordo com Castanho, o pensamento estratégico é fundamental para ajudar o cliente a vender. Dentro desta visão, o conhecimento e uso de softwares têm grande importância para agilizar o fluxo de trabalho e oferecer novas possibilidades e o desenvolvimento de campanhas mais diferenciadas. O especialista trouxe uma série de informações e dados sobre a evolução do mundo digital, mostrando que o empresário que não entender a mudança vai ficar para trás. São tecnologias existentes que vêm avançando, tornando-se menores em tamanho, mais rápidas e mais baratas, ampliando o acesso à tecnologia no geral. Isto não será diferente com a impressão, que deve estar sempre integrada às revoluções tecnológicas.

Por fim, Rainer Wagner, apontou as tendências tecnológicas até 2020.  Wagner é engenheiro gráfico pela Universidade de Munique (Alemanha) e consultor técnico e especialista em estandardização e automação da produção gráfica, com clientes nos Estados Unidos e América Latina. É membro do Fogra, instituto alemão de pesquisa em impressão). Ele ressaltou que a América Latina vem fazendo muitos investimentos no segmento em equipamentos novos de impressão e acabamento. Ele fez uma passagem sobre as novidades em impressão digital, flexografia banda estreita, offset, acabamento e enobrecimento digital, 3D e outros desenvolvimentos das grandes companhias, como nanografia e softwares de web-to-print. Mesmo apresentando uma série de desenvolvimentos em equipamentos, deixou claro: “O futuro será feito por pessoas.” As apresentações das palestras poderão ser encontradas no site da ABTG: www.abtg.org.br   


O Congresso Internacional de Tecnologia Gráfica foi finalizado com uma mesa-redonda. O mediador foi o diretor técnico da ABTG, Manoel Manteigas de Oliveira. Participaram da mesa Kleber Rodrigues, gerente de vendas da Kodak; Fabiano Peres, supervisor de revendas da Canon; Rogério Gomes, gerente de serviços técnicos da Hubergroup; Alexandre Dalama, diretor da Rotatek; Paulo Faria, diretor geral da KBA, e Melchior Trueeb, gerente de vendas da Müller Martini.

Dentre os vários temas tratados na mesa-redonda estiveram: sustentabilidade, a importância de diversificar o leque de produção, a dificuldade de atrair jovens talentos para o mercado gráfico, questões de sucessão nas empresas, importância da tecnologia na produção de valor, as tendências one-to-one com a impressão digital, a integração de sistemas inkjet, o cuidado com perdas de insumos, a importância da capacitação e pensamento estratégico.

Ao fim das apresentações paira no ar o desafio de levantar da cadeira em busca de desafios disruptivos. Ou será que o disruptivo é o desafio? Ainda não sabemos a resposta, mas foi um dia intenso de trabalho baseado na troca de informação do mundo gráfico. Evidentemente não é possível resolver todos os problemas ou encontrar todas as soluções em um dia. 

Sim, o Congresso Internacional de Tecnologia Gráfica chegou em boa hora. 

A partida começou.     

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