A presidente Dilma Rousseff completa, em 10 de abril, os
primeiros cem dias de seu segundo mandato praticamente isolada no Palácio do
Planalto. A base de sustentação do governo no Congresso Nacional está muito
abalada, colocando o Poder Executivo quase na condição de refém das mesas
diretoras do Senado e da Câmara dos Deputados. É o velho clientelismo mostrando
suas garras. Como se não bastasse, o próprio PT questiona a administração e as
decisões do governo, tornando-o ainda mais frágil.
A solidão de Dilma é a face mais aguda dos
desentendimentos políticos que dificultam a solução da crise econômica, pois
geram desconfianças, incertezas e insegurança. A presidente caminha num fio de
navalha. Qualquer decisão que adote desagrada um ou mais segmentos integrantes
do governo, cujos ministérios constituem uma Babel ideológica dos partidos
aliados (???) e de sua própria legenda.
Indicação muito clara disso é o ajuste fiscal, tão
necessário à Nação, mas contestado de modo veemente pelo PT e os setores mais à
esquerda do pensamento nacional, que não aceitam a redução de benefícios para
os desempregados e pensionistas do INSS. Outro exemplo é o projeto de lei
relativo à terceirização, também do desagrado da CUT, do partido da situação e
de organizações oficiosas que o apoiam, como os movimentos dos sem terra e sem
teto, protagonistas de manifestação violenta em frente ao Congresso Nacional,
no dia da votação, 7 de abril. Como agirá Dilma no momento de sancionar a
matéria? Em contrapartida, propostas como a da redução da maioridade penal,
defendida por vários partidos da base de sustentação e da oposição, não têm o
apoio da presidente.
Dividida na tentativa de preservar o apoio de legendas
cada vez menos sinérgicas, fragilizada politicamente dentro do próprio PT e
pressionada pelo escândalo do petrolão, Dilma Rousseff vem adotando apenas
medidas paliativas e não faz o que o Brasil precisa para retomar o crescimento
econômico: juros e impostos menores; câmbio equilibrado; política eficaz de
estímulo à competitividade industrial; investimentos em infraestrutura;
garantia de abastecimento de energia e programa sério para enfrentar a crise
hídrica; financiamentos de longo prazo para as médias e pequenas empresas; e
política cambial mais equilibrada, que atenda à necessidade de impulsionar as
exportações, mas sem exceder os limites de desvalorização do Real toleráveis
para quem compra tecnologia, insumos e bens de capital no exterior.
Essas são providências essenciais para reanimar os
investidores e despertar o chamado espírito animal dos empresários, invocado
recentemente pelo próprio governo. Poucos ousarão empreender, aumentar a
produção, criar produtos e serviços e alocar recursos na expansão de mercados,
em meio ao presente cenário de incertezas e de políticas públicas
inconsistentes, de curto prazo, com frágil apoio político e que, por todas
essas causas, inviabilizam o planejamento das empresas e desestimulam a
economia.
Em vez de seguir premida pelos partidos, chegou a hora de
a presidente Dilma, fazendo valer a legitimidade institucional de sua eleição,
ignorar o fisiologismo e atender aos anseios dos mais de 53 milhões de
eleitores que votaram nela, dos outros mais de 50 milhões que não votaram, dos
trabalhadores, empresários e toda a sociedade, realizando o que o Brasil
realmente precisa. Caso contrário, transformará o Palácio do Planalto num
sombrio cenário realista da mítica aldeia de Macondo, na qual se isolaram, em
“cem anos de solidão”, os membros da família Buendía, personagens do consagrado
romance do Nobel de literatura Gabriel Garcia Marques.
*Presidente
da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf Nacional)
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