quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Uma bobagem chamada canibalização das mídias

Por Levi Ceregato, Presidente da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf Nacional) e do Sindigraf-SP

O levantamento do G1, baseado em dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), apontando que o maior gasto dos candidatos nas campanhas políticas deste ano refere-se à publicidade com materiais impressos soterra de vez a tese da canibalização entre as mídias, segundo a qual o eletrônico extinguirá o produto gráfico. Tal insinuação, aliás, jamais teve base de sustentação em dados concretos e reais. A internet, as redes sociais, os blogs, os sites jornalísticos da Web, os aplicativos e a acessibilidade em celulares e tablets são avanços fantásticos, criaram numerosas facilidades para a sociedade contemporânea e democratizaram a comunicação, mas não estão matando as demais mídias.

É preciso analisar com bom senso e serenidade essa questão, a partir de dados e pesquisas consistentes, para não se divulgarem conceitos e informação de modo leviano e irresponsável. Distintos estudos, do Brasil e do exterior, abordando a publicidade, o mercado editorial e o universo jornalístico, são congruentes quanto ao disparate de que o impresso sucumbirá.

Pesquisa dos Correios, realizada este ano na cidade de São Paulo, mostrou que a maioria dos 2.400 entrevistados confia mais nos folhetos e malas diretas do que em qualquer outra mídia como forma de comunicação. Esta é a preferência de 26,3% dos depoentes. Seguem-se: rádio e TV (25%), jornais e revistas (16,7%), divulgação na internet (14,4%) e e-mails (14,1%).

Outro estudo recente, realizado pela Associação Brasileira de Empresas com Rotativas Offset (ABRO), abrangendo universo de 1.027 pessoas, 31 agências de publicidade e 100 empresas varejistas de todo o País, demonstrou: quando quer se informar sobre algum produto, a maioria da população (56%) vai diretamente ao ponto de venda, o que revela a importância das embalagens como influenciadoras da decisão de compra; outros 37% informam-se por meio de folhetos. Na soma das duas alternativas, observamos que 93% consultam materiais impressos para se orientar sobre o consumo de bens. A pesquisa também mostra que 100% das agências de publicidade recomendam a propaganda em folhetos e que 88% dos varejistas aderem a essa modalidade.

As duas novas pesquisas corroboram estudos internacionais que comprovam a credibilidade da comunicação impressa, como o relatório da American University, de Washington (EUA), que abordou 300 universitários dos Estados Unidos, Japão, Alemanha e Eslováquia, concluindo: apesar da ampla disponibilidade de plataformas eletrônicas como smartphones, tablets, readers e computadores, cujo uso faz parte da rotina dos jovens, o livro impresso segue muito à frente na preferência dos estudantes para leituras sérias, com 92%.

Estudo da Nielsen BookScan indicou que o número de livros impressos vendidos nos Estados Unidos em 2014 subiu 2,4%, alcançando 635 milhões de unidades. Segundo especialistas, o crescimento da venda de livros físicos deverá manter-se nos próximos anos, pois os novos leitores parecem gostar cada vez mais do papel. A Nielsen revela que a maioria dos adolescentes entre 13 e 17 anos prefere obras impressas. Além disso, as vendas de títulos de ficção para jovens adultos cresceram 12% em 2014, mais do que os dirigidos aos adultos.

Pesquisa realizada em 2014 pelo DataFolha demonstrou que, no Brasil, 59% dos leitores de livros e 56% de revistas optam pelas edições convencionais. No caso de jornais, 48% preferem acessá-los em computadores, tablets e celulares e 46% continuam fiéis às formas tradicionais. É interessante o fato de que 80% dos entrevistados brasileiros afirmaram que ler em papel é mais agradável do que em uma tela.


Todos esses estudos foram referendados pelos depoimentos e palestras do Summit de Comunicação, realizado em dezembro de 2015, na cidade de São Paulo, que terá sua segunda edição em 4 de outubro de 2016. Uma frase cirúrgica e conclusiva no evento mostrou ser uma bobagem a briga entre impresso e eletrônico e evidenciou a credibilidade e importância da tinta sobre o papel: "Não se constroem marcas apenas com mídia digital". O lúcido depoimento é de Sérgio Maria, diretor de Parcerias Estratégicas do Google!

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