A indústria de transformação brasileira precisa reagir de modo exemplar contra o chamado “efeito China”, fazendo valer sua tecnologia, know how e reconhecida capacidade de trabalho. Nesse sentido, não bastam as justas reivindicações de alguns setores ao governo, relativas a desonerações tributárias e da folha de pagamentos. Claro que a redução de custos é importante, mas precisa ser acompanhada de um choque de eficiência e superação, do qual os brasileiros já demonstraram ser capazes em diversos segmentos do mercado.
Podemos tomar como exemplo o parque impressor. Constituído por cerca de 20 mil empresas e empregador de 200 mil trabalhadores, começa a sentir a concorrência externa de modo mais acentuado, em especial no segmento de livros, que, segundo a Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf Nacional), vem sendo cada vez mais rodados no exterior, inclusive os didáticos, comprados pelo governo para distribuir gratuitamente às escolas públicas. Está correta a entidade, conforme se manifestou em matérias e artigos de seus dirigentes na mídia, ao se indignar com o fato de o dinheiro dos impostos dos brasileiros destinado à aquisição de livros para estudantes de baixa renda estar gerando empregos na China e em outros países.
Por isso, é hora de reagir. Os empresários gráficos devem ser mais ousados, na proporção em que exige a presente conjuntura. Por que não prospectar de modo mais amplo e consistente também o mercado externo, num estratégico contra-ataque aos concorrentes estrangeiros para reaver a demanda de serviços impressos atualmente no exterior? Tecnologia e capacidade para isso não faltam, inclusive porque o setor vem investindo em máquinas e equipamentos de ponta, tendo condições de competir no plano técnico com qualquer gráfica. É essencial, porém, buscar soluções para ampliar a produtividade, fator decisivo para melhorar a eficiência e reduzir o custo da produção, com ganhos de competitividade nos preços.
Também seria pertinente, no plano político-institucional, que toda a cadeia produtiva da comunicação impressa, por meio de entidades da indústria gráfica, se articulasse, somasse forças e propusesse ao governo medidas efetivas capazes de desonerar sua produção, com medidas como a redução de impostos, diminuição dos encargos sobre a folha de pagamentos, menos burocracia no desembaraço de importações/exportações e liberação de crédito. Trata-se de uma cadeia produtiva de alto valor agregado, empregadora de mão de obra intensiva e que presta relevantes serviços à economia e à sociedade, considerando o significado da impressão para o ensino, a cultura, a difusão do conhecimento e a produção de embalagens para medicamentos e alimentos, dentre outros produtos essenciais.
Portanto, a somatória de forças de toda a cadeia poderia sensibilizar o mercado e, especialmente, o governo, cuja contribuição é importante no sentido de equilibrar um pouco a capacidade competitiva das empresas brasileiras com as concorrentes internacionais, em especial as que contam com o favorecimento de artifícios cambiais, custos salariais muito baixos e processos produtivos desrespeitosos às boas praticas ambientais e, portanto, mais baratos. A indústria gráfica brasileira é forte e competente. Tem todas as condições de reagir e vencer a luta que se trava no comércio mundial.
*Dieter Brandt é presidente da Heidelberg América do Sul
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