Embora o Brasil esteja
passando por um momento muito difícil, com perspectiva de recessão, inflação
acima da meta e fuga de investimentos, o Governo Federal, por meio da
presidente Dilma Rousseff e os ministros da área econômica, insiste em afirmar
que a situação não é grave como se propala e que os fundamentos econômicos são
bons. Se essa não convincente argumentação ficasse apenas no plano retórico, já
seria nociva, pois é um desrespeito à inteligência dos brasileiros. O mais
grave, porém, é que está balizando as medidas destinadas a combater a crise.
O resultado é que se está
tratando uma doença aguda com placebos, em detrimento de todos os setores de
atividade, principalmente a indústria. Nada se faz de concreto para que os
setores produtivos vislumbrem a possibilidade de retomada do crescimento. Ao
contrário, adotam-se providências que conspiram contra a recuperação e não se
cumprem promessas cujos efeitos poderiam ajudar na recuperação.
A presidente da República
prometeu energia elétrica mais barata. Não apenas se descumpriu tal meta, como
aumentou muito o preço, e com risco de “apagão”. Por conta disso, a indústria
está fazendo investimentos pesados em geradores de eletricidade, num momento de
retração de seus negócios. O mesmo ocorre com a perfuração de poços artesianos,
para se enfrentar a crise hídrica.
O governo também prometeu
medidas saneadoras e combate à inflação, mas não contém o déficit público, que
alimenta a escalada dos preços, estimula uma ciranda financeira em torno dos
títulos do Tesouro e aguça o apetite dos especuladores. Ou será que alguém é
ingênuo a ponto de acreditar que se tirando direitos previdenciários de
aposentados, viúvas e desempregados promove-se a redenção da responsabilidade
fiscal? Ninguém fala em cortar os altos salários dos apaniguados políticos
contratados nos cargos em comissão, da festa das passagens aéreas, do excesso
de ministérios e dos gastos supérfluos. Ah, sim, e do dinheiro que escorre aos
borbotões pelo ralo da corrupção!
Todo esse descompasso
influenciou o descontrole do câmbio, com a desvalorização do real ultrapassando
o limite interessante para os exportadores e atingindo patamar letal para quem
investiu em dólar para comprar equipamentos e promover atualização tecnológica.
Este, aliás, é o caso da indústria gráfica. Nosso setor foi um dos que deram
voto de confiança às promessas de crescimento do PIB e ajuste da economia,
endividando-se em moeda estrangeira para investir. Agora, com mercado recessivo
e falta de encomendas, sofre muito com o aumento significativo da amortização
dos financiamentos dos bens de capital importados.
Parece, contudo, que o
governo ainda não estava satisfeito com as barreiras impostas às empresas. E,
então, desferiu outro duro golpe, o dos juros altos, que retrai ainda mais o
mercado e agrava os custos, inibindo o consumo e encarecendo a produção.
Restava um alento: a
desoneração da folha de pagamentos para cerca de 40 setores de atividade,
dentre eles os segmentos de embalagens e cadernos da indústria gráfica. No
Brasil, porém, prevalece aquele velho ditado de que “desgraça pouca é bobagem”.
Então, cortou-se o estímulo, por meio da Medida Provisória 669, recusada pelo
Senado e convertida em projeto de lei.
Num momento em que todos os
seus custos aumentam e seu mercado míngua, os empresários recebem apenas um
saco de maldades do governo, permeado de promessas vazias. Por isso, é hora de
ampla mobilização, cívica e ordeira, da indústria gráfica, aliada a outros
setores e no âmbito das federações e confederações, para cobrar medidas
concretas em prol da economia. Não é mais possível resignarmo-nos ante tanto
desestímulo e desrespeito a quem produz, trabalha e gera empregos.
*Presidente
da Abigraf Regional São Paulo (Associação Brasileira da Indústria Gráfica-SP)
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