Aos olhos dos empresários e da sociedade, ao manter os
juros reais mais altos do mundo, autoridades monetárias sinalizam não acreditar
na política econômica e nos efeitos positivos do ajuste fiscal em curso. A
Selic exagerada retroalimenta a crise!
Na atual conjuntura de crise, é inútil a contínua
elevação da taxa de juros, pois os efeitos na contenção dos índices
inflacionários vêm se mostrando nulos, enquanto os danos à economia, às
empresas e às famílias tornam-se cada vez mais graves. Tanto que, embora há
meses a Selic tenha superado a alta barreira dos 13%, não se observaram ainda
efeitos práticos quanto ao recuo da inflação, mas o impacto nos setores
produtivos tem sido grande.
Num momento de retração como o que estamos vivendo, as
sinalizações da política econômica são importantes para estimular uma reação ou
retroalimentar a crise. Quando o Copom mantém juros tão elevados, com a maior
taxa real do mundo, a leitura do empresariado e dos consumidores é a de que as
próprias autoridades monetárias estão jogando a toalha, descrentes na
capacidade de o Brasil vencer o combate contra a recessão.
Não podemos ser nocauteados pelos nossos próprios erros!
Nesse sentido, teria sido importante que o Copom reduzisse substancialmente a
taxa na reunião de 3 de junho. Uma Selic menor
passaria à sociedade mensagem de confiança na política econômica, na
capacidade de superação do país e no ajuste fiscal em curso (este sim, se aplicado
de modo correto, é ferramenta eficiente contra a inflação). Ao mantê-la em
níveis tão elevados, o Comitê negou implicitamente tudo isso, contribuindo para
um efeito psicológico de agravamento das dificuldades.
Em tempo: na sondagem do primeiro trimestre, o Índice de
Confiança da indústria gráfica apresentou queda de sete pontos em relação ao
quarto trimestre de 2014, atingindo o índice de 41,1, em uma escala de 0 a 100; cálculos da Abigraf
Nacional, entidade represetativa da atividade,
com base na Pesquisa Industrial Mensal do IBGE, mostram que a produção
física do setor recuou 3,7% no acumulado de janeiro a março, em comparação com
o mesmo período do ano anterior.
Está redondamente enganado quem imagina que os juros
estratosféricos, dentre outros fatores, nada tem a ver com tais indicadores...
*Presidente da Associação Brasileira da Indústria Gráfica
(Abigraf Nacional).
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