quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Opinião: Tablets como futuro do jornalismo

Por Carlos Eduardo Lins da Silva*

É um mistério para muitos jornalistas a razão por que a publicidade para a mídia digital é tão menos atraente do que para a impressa  

Os tablets, designação genérica dos aparelhos que se tornaram conhecidos inicialmente pelo modelo iPad da Apple, que agora tem diversos concorrentes, foram desde o lançamento considerados como uma das melhores perspectivas de futuro para os veículos jornalísticos que se consolidaram como meios impressos.

Nos pouco mais de 20 anos desde que o declínio da circulação impressa desses veículos na maior parte do mundo economicamente desenvolvido começou a se acentuar de maneira dramática, todas as alternativas de modelo de negócios para a versão em papel e para os primeiros sucedâneos na internet se provaram ineficazes.

Os tablets vêm se mostrando especialmente bem adequados para as revistas, e as vendas de assinaturas e a satisfação dos leitores que se utilizam dessa plataforma têm crescido substancialmente, de modo geral, desde que passaram a utilizá-la, com as óbvias características individuais de cada título, que causam sucessos e fracassos maiores e menores.

A porcentagem da população que possui e usa tablets ainda é relativamente pequena (19%, no caso dos EUA), mas representa a parcela da sociedade com maior poder aquisitivo e de influência pública.

O desafio para os editores e os artistas gráficos tem sido como refazer o desenho e o conteúdo do que costumavam produzir no papel para a tela, já que as diferenças da experiência visual são inúmeras e relevantes, e explorar com criatividade e audácia as quase infinitas possibilidades oferecidas por esse meio, que incluem vídeo, animação, som e muitas mais.

Duas revistas historicamente classificadas entre as melhores do mundo, The Economist e The New Yorker, têm feito edições para tablet muito diversas entre si.

A inglesa segue, por enquanto, a linha conservadora que a maioria dos veículos vem adotando, com críticas quase unânimes dos observadores da imprensa mais afinados com a nova mídia: a maneira como a revista aparece no papel é transposta literalmente para a tela, com alguns poucos acréscimos, como locução para quem quiser ouvi-la em vez de ler, envio por e-mail, Twitter ou Facebook de textos específicos e a capacidade de marcar certas matérias para ser acessadas depois independentemente daquela certa edição.

A americana tem sido um pouco mais ousada, com alguns efeitos visuais mais estimulantes, como o processo de criação da capa mostrado em animação, o acesso de posts diários feitos por jornalistas da equipe, o acesso exclusivo aos famosos cartuns da revista, entre outras, além das já citadas características oferecidas pela Economist.

Nos dois casos, no entanto, chama a atenção a quantidade de anúncios, bem menor do que a das versões impressas (especialmente no caso da Economist, que quase só traz calhaus na edição em tablet).

Esse é um problema sério porque mostra como também esse modelo de negócios ainda não está equacionado para garantir a sobrevivência do jornalismo de qualidade.

É um mistério para muitos jornalistas, que talvez apenas os publicitários possam esclarecer, a razão por que a publicidade para a mídia digital segue sendo tão menos atraente do que para a mídia impressa, geralmente muito mais barata e escassa.

Claro que há a questão da quantidade de consumidores, ainda menor no digital do que no impresso. Mas já não é insignificante em muitos países e sempre concentra os estratos sociais mais almejados pela maioria dos anunciantes.

Mesmo sem um estudo empírico que possa embasar esta hipótese, parece que há uma desproporcionalidade entre a real audiência dos veículos jornalísticos em tablets e a quantidade de anúncios neles quando comparados às versões impressas.

Outros problemas ainda não superados, em especial no Brasil, são o técnico e o do atendimento ao consumidor. É frequente e frustrante a ocorrência de falhas que impedem o acesso às edições de revistas e jornais em tablets e irritante a incompetência e o pouco caso dos departamentos encarregados de oferecer solução — supostamente rápida e eficaz — para essas dificuldades.

A venda, como é comum ocorrer em qualquer serviço público, é quase sempre ágil e satisfatória. A manutenção do serviço, no entanto, tem sido muito complicada. E não há (nem deve haver) agência regulatória para auxiliar o público em suas agonias.

O resultado é que a fórmula provavelmente com mais potencial para safar os veículos até agora majoritariamente impressos ainda não conseguiu achar um esquema que de fato funcione. O tempo dirá se os tablets são mesmo ou não o futuro do jornalismo.

*É editor da revista Política Externa e diretor do Espaço Educacional Educare. Uma vez por mês ele escreve artigos para Meio & Mensagem. Este texto foi publicado na edição 1520, de 30 de julho.

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