Quando os povos da Mesopotâmia, no Oriente Médio, criavam
a linguagem escrita, há quase cinco mil anos, do outro lado do mundo, nas
Montanhas Brancas da Califórnia, nos Estados Unidos, florescia um pinheiro da
espécie Pinus longaeva, hoje uma portentosa árvore, considerada pelos
estudiosos o ser vivo mais antigo do Planeta. Matusalém, como foi
carinhosamente apelidada, testemunhou, portanto, como a capacidade de dar significado
lógico a caracteres impressos mudou o destino da humanidade. Sim, pois o
progresso nesses cinco milênios foi infinitamente maior do que nos milhões de
anos anteriores.
A velha árvore assistiu ao advento do Egito e da Grécia
Clássica, contemplou a ascensão e queda do Império Romano, foi suserana de sua
linda montanha no período medieval, vivenciou o Renascimento, a Idade Moderna e
a Contemporânea. Chorou mil guerras, emocionou-se com a grandeza e a sabedoria
e se chocou ante a mesquinhez e a loucura do bipolar Homo sapiens sapiens.
Arrepiou-se de medo quando europeus e norte-americanos devastaram florestas
inteiras nos séculos 19 e 20. Revigorou-se de otimismo ao perceber a aurora da
consciência sobre a sustentabilidade.
Aos seus jovens vizinhos e primos, pinheiros de apenas
mil anos com os quais vive nas altitudes das Montanhas Brancas, a velha árvore
teria confessado, um dia, o seu dilema existencial: “Os pergaminhos dos
escribas, o papel dos livros e revistas e de todos os impressos, fundamentais na
transmissão da cultura e evolução da humanidade, advêm de matéria-prima
vegetal. Não haveria como conciliar a indispensável comunicação gráfica com a
preservação das florestas nativas”?
Sim, Matusalém há, conforme evidencia a Campanha Two
Sides, iniciativa inglesa já presente em quatro continentes, que valoriza a
comunicação gráfica e esclarece com sucesso o seu caráter sustentável. Depois
de numerosas gestões e cuidadosa preparação, o Brasil passa a integrar esse
bem-sucedido movimento, que dissemina informações comprovadas de que o impresso
é protagonista de ganhos econômicos, ambientais e sociais e que agrega muito
valor à civilização.
O lançamento oficial no País ocorreu dia 7 de abril de
2014, em reunião do Copagrem (Comitê da Cadeia Produtiva do Papel, Gráfica e
Embalagem da FIESP). São signatárias nacionais 29 entidades de classe
integrantes da cadeia produtiva da comunicação impressa e a Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo. A iniciativa reforça a divulgação de que
procedem de florestas cultivadas cem por cento do papel produzido no Brasil
para atividades de impressão. Aqui, não se derruba um arbusto nativo sequer
para que nossas crianças tenham livros e cadernos e possamos, sem dramas de
consciência, ler jornais e revistas e acondicionar remédios e alimentos em
embalagens de papel-cartão.
Assim, se depender da indústria gráfica e da cadeia
produtiva do papel, a flora amazônica e a de todo o País sobreviverão para
testemunhar a aventura do homem nos próximos milênios e o Brasil poderá cumprir
seu vaticínio de pulmão do mundo! Por isso, a velha árvore norte-americana pode
fazer sua fotossíntese aliviada. Nada é mais eficiente do que a informação
correta para se instituírem juízos de valor.
O dilema de Matusalém é o mesmo de numerosas pessoas.
Afinal, todos entendem a sua importância para a sociedade e amam livros,
revistas, jornais, cadernos e os impressos. Ao mesmo tempo, preconizam a
preservação das florestas. Por isso, é lamentável a desinformação sobre o tema,
tornando essencial a campanha Two Sides. Esta é uma luta na qual não devemos
esmorecer, inclusive porque a consciência ecológica, consentânea da informação
difundida nos jornais, livros e toda a comunicação gráfica, é imprescindível
para que a atual e as futuras gerações selem indissociável compromisso com a
preservação do Planeta.
*Presidente
da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf) e do Sindicato da
Indústria Gráfica no Estado de São Paulo (Sindigraf-SP), é o coordenador do
Copagrem (Comitê da Cadeia Produtiva do Papel, Gráfica e Embalagem da FIESP)
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