Em época de vacas magras e
juros gordos, quem paga o pato são as empresas e os trabalhadores, que ficam
sem crédito, respectivamente, para financiamento e consumo. Essa perversa
equação está no epicentro da atual crise brasileira. Por isso, são muito
corretas as críticas de que a mesmice da Selic alta para conter a inflação já
se esgotou como solução há muito tempo. Está faltando criatividade, ousadia e
transparência por parte do governo, que mantém a sociedade na expectativa do
que pode acontecer.
Prova da ineficiência dos
juros como mecanismo de estabilidade dos preços na atual conjuntura brasileira
é que as previsões inflacionárias para este ano são as maiores da década,
superando a oito por cento, com o fator agravante da estagnação. Não é possível
que os especialistas do governo não tenham consciência dessa conta tão simples,
que todos já enxergaram. O problema é que Brasília não tem como mudar o filme
da Selic por uma questão indisfarçável: o desequilíbrio fiscal.
Na verdade, a União precisa
pagar juros altos por seus papéis para continuar captando recursos destinados
ao financiamento da dívida pública, alimentada durante muito tempo por despesas
maiores do que as receitas. A perda de credibilidade do governo, causada não
apenas pela questão fiscal, mas também por episódios como “mensalões” e
“petrolões”, também exige que seus títulos paguem muito para atrair aplicações
de dinheiro.
Estamos, assim, numa
tempestade mais do que perfeita. É um círculo vicioso com força de tufão, no
qual giram desordenadamente a retração do nível de atividades, o desequilíbrio
fiscal, os juros altos, a inflação e o desemprego em alta. A economia
brasileira está aparentemente sem rumo. A presidente Dilma Rousseff parece cada
vez mais retraída e cautelosa antes de anunciar novas políticas públicas, em
meio ao desabamento de sua popularidade e à crise de relacionamento com a
Câmara dos Deputados e o Senado.
Enquanto isso, as empresas
enfrentam cada vez mais dificuldades para vender, capitalizar-se, manter postos
de trabalho e as portas abertas. Tais obstáculos refletem-se no índice de
confiança do empresário gráfico brasileira, relativo ao primeiro trimestre
deste ano, que caiu para 41 pontos, ante 48,4, nos últimos três meses de 2014.
Em São Paulo, o recuo foi mais drástico, de 45,8 para 36,2.
O estudo, que acaba de ser
anunciado pela Abigraf (Associação Brasileira da Indústria Gráfica), mostra,
ainda, que o aumento do preço da energia elétrica teve impacto muito grande
para 63,5% do empresariado do setor. Apenas 4,2% dizem não terem sido afetados.
Além disso, o risco de racionamento de eletricidade influencia a decisão de
investimento de 35,1% das gráficas e impõe plano de contingenciamento para
17,7%. Na soma relativa às crises hídrica e energética, a produção das empresas
médias foi muito afetada, bem como investimentos. Os grandes impressores
tiveram margens impactadas, mas sem danos graves à produção e planos de
investimento.
Diante de tantos problemas a
serem resolvidos, é desagradável constatar, a cada reunião do Copom, que o
governo insiste em buscar soluções apenas na síntese superada dos juros altos.
*Presidente
da Abigraf Regional São Paulo (Associação Brasileira da Indústria Gráfica-SP
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