quarta-feira, 7 de maio de 2014

Os novos motores do circuito gráfico


Impressoras digitais ganham espaço e credibilidade no mercado gráfico brasileiro sem, necessariamente, competir com os modelos considerados convencionais

Por Fábio Sabbag

Recentes dados publicados pela Messe Düsseldorf, organizadora da Drupa, refletiram diretamente no segmento de impressão digital dentro das gráficas do mundo todo. Uma das várias conclusões é que as receitas estão crescendo, mas os lucros estão diminuindo e os aumentos dos custos estão vulneráveis. Durante 2013, 45% dos entrevistados aumentaram as suas receitas, mas 21% sofreram uma queda.

Muitas das empresas observaram um crescimento nos volumes de impressão convencional no último ano;  29% relataram um maior volume de offset folha a folha, enquanto apenas 16% reportaram uma diminuição. Há um evidente aumento na impressão digital: 33% relataram um maior volume de folha solta digital enquanto apenas 3% reportaram uma diminuição.

De um modo geral, as gráficas de todas as regiões presenciam mudanças radicais na mistura de impressão digital e convencional à medida que a combinação das condições econômicas e os diferentes padrões de procura entram em vigor; 45% comunicaram uma redução nos volumes de produção e menores prazos de entrega, enquanto apenas 16% afirmaram que os volumes de produção aumentaram.

Outro indicador, consolidado pelo estudo, é que o cenário da tecnologia de impressão está mudando. O estudo revelou a crescente importância da impressão digital: 65% de todas as gráficas entrevistadas possuem globalmente uma produção de impressão digital e 5% são exclusivamente gráficas digitais; 85% de todas as gráficas comerciais (mundialmente) possuem impressão digital e 31% afirmaram que 25% ou mais do volume de negócio resulta da impressão digital.

Comparativamente, 38% das gráficas que trabalham com editoras e 57% das gráficas de embalagem não possuem qualquer capacidade de impressão digital; é um reflexo dos modelos de negócio mais convencionais, que exigem formatos de impressão mais tradicionais e tiragens mais longas. A conclusão é que a impressão digital, pelo visto, precisa ainda aumentar sua participação no segmento de embalagem, com exceção à produção de etiquetas, onde o seu uso já está muito mais generalizado.

Apesar do impacto decisivo da impressão digital no mercado comercial, pode ser encorajador, para a maioria das gráficas, saber que muito desse crescimento não foi conseguido à custa da impressão convencional, pois 57% das gráficas comerciais de todo o mundo relataram que a impressão digital representou um valor zero ou inferior a 10% do volume de negócio de impressão convencional.

Outro estudo, agora elaborado pela IDC (empresa de inteligência de mercado, serviços de consultoria e conferências com as indústrias de tecnologia da informação e telecomunicações), sobre mercado de impressão em 2013, apontou queda na tecnologia jato de tinta e crescimento de vendas de equipamentos a laser. Em 2013, o mercado brasileiro movimentou 3,7 milhões de equipamentos de impressão, volume aproximadamente 9% menor do que em 2012. 

Na visualização dos resultados por tecnologia, o cenário é distinto entre laser e jato de tinta. Enquanto as vendas de impressoras jato de tinta caíram 13,1% (de 3,087 milhões em 2012 para 2,682 milhões de unidades em 2013), as vendas de laser tiveram um ligeiro crescimento e passaram de 1,019 milhão de unidades vendidas em 2012 para 1,053 milhão em 2013.

Caminhos

A impressão digital atingiu, ao longo do tempo, o mesmo patamar de qualidade de impressão de outras tecnologias. A evolução esperada agora é o aumento da produtividade e redução dos custos de impressão, aponta Carlos Henrique, gerente de vendas inkjet da Agfa no Brasil. 

“À medida que essa evolução ocorre mais clientes convencionais investem em novas tecnologias e atualizam seu parque de equipamentos. É importante mencionar que a impressão digital não precisa necessariamente substituir outras tecnologias, mas atuar como um complemento, já que é vantajosa em determinadas situações, como baixas tiragens, prova de cor, mockups etc.”, argumenta Henrique.

Ainda na opinião do gerente de vendas inkjet da Agfa, as altas tiragens já não são exatamente uma barreira. “Esse tipo de trabalho já não é tão comum como era antigamente. Enquanto a viabilidade da impressão digital alcança tiragens um pouco maiores, o próprio comportamento dos jobs se afunila em direção a tiragens um pouco menores. É questão de tempo para que os dois se encontrem completamente”, avisa. 

Para Sean Maximo, analista de marketing da Konica Minolta, atualmente todas as empresas que vendem impressos se voltaram a favor da impressão digital, principalmente visando a saúde financeira de seus estabelecimentos. “A impressão digital é muito flexível no seu conceito de funcionamento e possibilita um extenso e vasto leque de aplicações, muitas delas com alta lucratividade, quebrando muitos paradigmas. A tiragem para impressão digital é muito importante para definir o equipamento a ser utilizado, mas não podemos nos prender somente à quantidade e esquecer o que será impresso. Por isso, ainda precisamos nos preocupar com ambos os aspectos”, completa.

Na opinião de Mauricio Carlini, digital print solutions sales manager da Kodak, o mercado está saturado com empresas que vendem impressão pela impressão, onde a diferenciação é o preço. “Os lucros são pequenos, e a concorrência, feroz. Há outros canais digitais relevantes disponíveis para as marcas exporem seus produtos. A maioria dos clientes dessas gráficas ou fornecedores de impressão também está em negócios comoditizados. Bons produtos não são vendidos por si só e as marcas precisam comunicá-los melhor que seus competidores”, fala Carlini.

As mudanças no mercado direcionam as ações do ‘empurrar’ o produto para o desenvolvimento de interação mais pessoal. Por isso, acredita o executivo da Kodak, as agências de propaganda e os profissionais de marketing testam e aprendem a lidar com os novos canais de comunicação. “Neste ambiente, a adoção da tecnologia digital não somente abre novas oportunidades de negócios, mas também, em grande medida, adiciona valor ao investimento que já foi realizado no parque industrial gráfico e que ainda terá muitos anos de produção pela frente”, acrescenta.

A HP já detectou que a maioria de seus clientes não são impressores tidos como convencionais, muito embora nos últimos anos a participação desses clientes venha crescendo consistentemente. “Grosseiramente podemos classificar os clientes tidos como convencionais em dois grandes grupos: os que se dão bem no mercado e aproveitam competentemente nas oportunidades oferecidas; e aqueles que estão sucumbindo às mudanças de mercado, pois não conseguiram se preparar para enfrentá-las. Paradoxalmente, aqueles que estão se dando bem no mercado convencional têm desinteresse em estudar novas formas de negócios onde a impressão digital seguramente é uma das opções mais flexíveis. Preferem investir mais naquilo que estão se dando bem. Não imaginam que o mercado pode mudar o suficiente para ameaçar suas posições atuais”, fala Osvaldo Cristo, pre sales specialist HP Indigo and Inkjet Press Latin America.

Cristo alerta que é comum a impressão digital ser considerada pela indústria convencional somente no momento em que as coisas estão andando mal. Porém é justamente nesse momento que a capacidade de investimento – e consequentemente desenvolvimento de mercado – está muito debilitada. “Uma mudança de abordagem de mercado torna-se muito mais difícil. Curiosamente muitos dos casos de sucesso que temos com nossas impressoras digitais vêm de empreendedores que não tinham nada a ver com a indústria na qual hoje atuam e estão substituindo aqueles que já atuavam há tempos, mas que insistiram em se manter aferrados ao seu sistema de produção convencional no segmento de fotografia, editorial ou promocional. Existe um número crescente de empresários atuando no segmento convencional e que tem despertado para as possibilidades da impressão digital, mas eles ainda representam uma minoria dentro do segmento como um todo. São justamente esses pouco empreendedores que têm uma oportunidade única de se imporem ou continuarem como líderes de mercado no futuro previsível”, avalia Cristo.

Marcelo Pimentel, gerente de produto da T&C, diz que, além das tiragens diminuírem o tempo de entrega, o mercado promocional está mudando para impressões personalizadas e a tecnologia está consolidada, ou seja, a gráfica tradicional tem praticamente obrigação de oferecer os serviços em digital. “A indústria gráfica está passando por uma transformação para se adequar ao novo modelo de negócio. A onda digital vem com novas impressoras de alto volume inkjet e nos próximos quatro anos teremos esta tecnologia consolidada. O inkjet atenderá e substituirá o offset tradicional, principalmente no mercado promocional e editorial”, aposta Pimentel. 

Julio Lima, gerente de desenvolvimento de mercado Xerox Brasil, nota que os clientes perceberam que precisam atualizar os equipamentos sem abrir mão da tecnologia offset. Por isso, a tecnologia de impressão digital vem complementar a atual, oferecendo trabalhos diferenciados principalmente no que diz respeito a dados variáveis, pequenas e médias tiragens. “Cada vez mais o mercado necessita de pequenas e médias tiragens em curto espaço de tempo. A única barreira que existe, talvez, seja o volume. Para altos volumes até hoje a tecnologia offset é mais competitiva. Para baixos volumes a tecnologia digital é mais competitiva. Atualmente parte do trabalho desses clientes é avaliar qual opção é adequada. O ideal é ter as duas e avaliar qual a mais vantajosa para determinado trabalho, tanto para ele quanto para o cliente final”, orienta Lima.

Recentemente, a Xerox inaugurou em Barueri (SP), numa parceria com o Senai, seu centro para formação profissional e desenvolvimento de aplicações voltadas à indústria gráfica, gestão da informação e tratamento de documentos. É um espaço equipado com tecnologias que vão de impressoras e multifuncionais para diferentes rotinas de produção digital de documentos a tecnologias de ponta para integração de soluções voltadas à automação de fluxos de trabalho e otimização de processos. “São 25 soluções, incluindo, sistemas de produção gráfica digital e software, além de oferecer aos alunos do Senai, clientes corporativos de diferentes indústrias e gráficas comerciais um ponto único de acesso ao mais completo portfólio de tecnologias do gênero existente hoje no mercado”, avisa o gerente de desenvolvimento de mercado Xerox Brasil.

Destaques  

A Agfa possui duas linhas de impressoras inkjet UV diferentes, sendo a linha :Anapurna composta por modelos de baixa e média produtividade e foco em qualidade de impressão. Já a linha Jeti é composta por equipamentos industriais que reúnem qualidade de impressão e alta produtividade. “Na linha :Anapurna, o modelo mais procurado é a Anapurna M2050, impressora híbrida, imprime mídias em chapas, folhas ou rolo, de 2,05m de largura, seis cores mais o branco e produtividade de até 53m²/hora. Já entre as :Jeti o modelo mais vendido é a 3020 Titan, uma impressora flatbed com conceito configurável. O cliente pode optar por quatro, seis ou sete pela quantidade de cabeças de impressão que vão de 16 a 48, e consequentemente velocidade de impressão, e pelo sistema rolo a rolo de 3,20m”, fala Henrique.

Já na Kodak, o produto mais comercializado é o sistema de impressão Kodak Prosper da série S. “Trata-se da última geração de soluções inkjet ultrarrápida com alta resolução que estabelecem novos parâmetros de custos com aplicação de dados variáveis ‘classe offset’. Considerando os padrões exigidos pelo mercado gráfico, estes sistemas entregam informação variável sem deixar nada a dever aos processos tradicionais de impressão, proporcionando quatro elementos-chave ao usuário: confiabilidade, produtividade, baixos custos de operação e propriedade e qualidade de imagem. Muito embora o termo impressão de dados variáveis com classe offset possa ser novo para muitos de nossos clientes, eles entendem o apelo da resolução laser com custos inkjet. A característica mais importante destes sistemas é a de permitir adicionar impressão digital variável aos equipamentos e dispositivos já existentes, cujo investimento, em geral, foram vultosos, e com esta adoção passam a entregar maior valor agregado”, explica Carlini.

Na Hewlett-Packard, que é considerada uma das maiores empresas de alta tecnologia do mundo, com um faturamento mundial ao redor de US$ 130 bilhões anuais em distintas linhas de produtos e serviços, uma de suas divisões de negócios chama-se GSB, responsável por sistemas de impressão voltados para a indústria gráfica com três linhas de produtos: HP Indigo com a tecnologia EletroInk de impressão digital offset; HP IHPS com impressoras digitais rotativas de alto desempenho baseada em tecnologia térmica de injeção de tintas; e a linha de plotadoras industriais com tecnologia Latex ou UV.

“A HP Indigo é o padrão de qualidade digital do mercado gráfico por utilizar processo de transferência indireta da imagem por meio de blanqueta (offset) com EletroInk, uma tinta especial com mesmo “look and feel” de tinta usada em impressora offset convencional e garantindo resultados igualmente semelhantes, em alguns casos superiores, por suas tintas poderem oferecer um gamut de cores mais amplo. As impressoras offset digital HP Indigo de folhas podem imprimir de quatro a sete cores, frente e verso em uma única entrada de máquina, nos formatos um quarto de folha ou de meia folha. O fato de poder imprimir dados variáveis pode eliminar etapas de acabamento, já que o alceamento pode ser feito eletronicamente imprimindo na ordem correta as diferentes folhas e tudo isso sem necessitar de tempo de secagem”, explica Cristo. 

Na mesma tecnologia HP Indigo também faz parte uma linha de impressoras rotativas que devido ao seu caráter digital tem o “cut off” variável. “Com largura de banda de 33cm ou 75cm (será lançada em breve no mercado), com impressão simplex ou duplex, as impressoras combinam com toda a tecnologia HP Indigo, alta qualidade de impressão, flexibilidade de substratos e produtividade para diversas aplicações, como editorial de alta qualidade, rótulos e etiquetas de mais alto valor agregado. Já a HP IHPS tem no seu escopo as impressoras com base na tecnologia de injeção de tinta trabalhando com papel em rolo, daí vem a classificação como rotativas digitais. Com três linhas diferentes de produtos, com largura de impressão de 52cm, 74cm e 106cm, todas compartilham a mesma alta tecnologia de impressão e tintas à base de pigmento totalmente desenvolvidas e fabricadas pela HP, garantindo a mais alta qualidade disponível no mercado em jato de tinta e com capacidade de produção mensal de 50 a 175 milhões de páginas A4, quer em cores ou preto e branco. A qualidade obtida com essa tecnologia transformou essas impressoras no padrão de fato da indústria gráfica, sobretudo no segmento editorial”, afirma o pre sales specialist HP Indigo and Inkjet Press Latin America.    

Pimentel considera a Konica Minolta C7000 como a melhor opção para a gráfica: “É robusta, usa os mesmos papéis que as impressoras offset, imprime diversos substratos sintéticos, inclusive PVC, fácil de operar, baixo custo de impressão e aquisição e uma ótima qualidade de impressão”, enumera.

Atualmente o equipamento mais comercializado pela Xerox é a X570, que faz parte da família X5XX. É o equipamento de entrada colorida, mas com características de high end, calibração de cores e certificação Pantone. “É um multifuncional e trabalha com mídias de 12 polegadas por 18 polegadas, nas bandejas internas. E pelas bandejas de bypass até 13 por 19.2 polegadas ou pela bandeja de alta capacidade, que é opcional. Suporta papéis revestidos e não revestidos de até 300 gramas e faz duplex automático em mídias de até 220 gramas. Tem muitas opções de acabamentos, lombada quadrada, entre outros”, detalha Lima.

Insumos

Felipe Portes Melli Wady Debes, diretor comercial da Fotobras, ressalta que a empresa foi uma das pioneiras a atuar na demanda de insumos para a impressão digital. “Assim que começaram a entrar no mercado brasileiro as primeiras impressoras digitais, tivemos a preocupação de buscar em nossos fornecedores internacionais as soluções disponíveis. Hoje temos um grande portfólio com marcas como Folex, SIHL, Technova, e outras, inclusive nacionais. Trabalhamos ainda com papéis especiais, diversos tipos de poliéster e toda a linha de autoadesivos. Importamos com exclusividade para o Brasil uma mídia que revolucionará a percepção e utilização do espaço em pontos de venda e locais internos, públicos e privados, ainda não explorados no Brasil”, anuncia Debes.

Já a Alphaprint aposta numa linha completa de substratos para impressão digital. São eles: couché (Nevia Digital), papel offset (e-paper), papéis fotográficos (Alphamídias e Sihl), papéis para prova (Alphamídias), lonas (Ultraflex), vinis adesivos (Oracal e Maxima), chapas rígidas Gilman Brothers e Isoforma (Foamboard, PS, PVC, Honeycomb, etc.), manta magnética (Magnum Magnetics), entre outros.

“A Alphaprint sempre procura trazer materiais de destaque. Podemos destacar a linha Oracal. Considerado um dos melhores vinis de impressão do mundo, agrega valor aos produtos oferecidos pela Alphaprint e garante qualidade e robustez. É indicado para impressoras digitais base solvente, látex e UV no ramo de comunicação visual”, fala Lara Vargas, gerente de produtos consumíveis – comunicação visual da Alphaprint.

Pimentel e Washington Gomes, gerentes de produtos da T&C, contam que a empresa oferece papéis especiais para provas contratuais e fotografia, PVC, vinil e lona. “A linha de papéis Epson é o destaque, pois garante alta qualidade, produtividade e segurança na calibração de cores”, asseguram.

Excêntricos 

A miríade de oportunidades que surgem ao mercado de impressão vai sendo preenchida gradativamente. O substrato papel, de longe o mais usado para a impressão, até por uma questão cultural, ganha “concorrentes” antes inimagináveis. Há, por exemplo, no portfólio da Fotobras, um produto chamado Permanent Paper. “Além de aceitar impressão nos dois lados, não rasga e resiste a altas e baixas temperaturas e também umidade”, assegura o diretor comercial da Fotobras.

Lara aponta o PVC da Alchemy Plastics com um material bastante interessante, pois pode ser configurado na impressão de acordo com as necessidades do cliente. “Possui amplas possibilidades de combinações para elaboração de cartões do tipo CR-80, podendo inclusive ser impresso com tarja magnética de alta coercitividade. Pode ser usado em equipamentos offset digital e toner seco. Não há limitações considerando o seu uso em impressoras digitais. Há inúmeras aplicações possíveis: cartões de fidelidade, telefônico, crédito, seguro, saúde, crachás de eventos, chave de hotel, etiquetas, etc”, diz.
Pimentel e Gomes citam o lenticular e os substratos sintéticos derivados do plástico, reciclados PET e laminados, que oferecem um mercado sem limite de aplicações.  

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