A empresa norte-americana planeja abrir sua loja digital de livros no Brasil no quarto trimestre de 2012. O grupo quer conquistar um espaço na maior economia da região com seu tablet, o Kindle, e um catálogo de livros digitais em português
A Amazon planeja abrir sua loja digital de livros no Brasil no quarto trimestre de 2012, buscando obter uma fatia no mercado online de rápido crescimento do País que inspirou o nome da empresa.
O grupo americano de comércio eletrônico, cujo nome é uma homenagem ao rio mais extenso da América Latina, quer conquistar um espaço na maior economia da região com seu tablet, o Kindle, e um catálogo de livros digitais em português, disseram representantes de editoras locais e uma fonte da indústria a par dos planos da empresa.
A abordagem digital permitirá que a Amazon minimize os riscos que uma estreia de maiores proporções implicaria num país com problemas notórios de infraestrutura e um sistema tributário complexo e custoso.
A empresa ainda terá de enfrentar uma desaceleração do crescimento econômico do País. "O Brasil seria o primeiro país em que a Amazon entra apenas com produtos digitais, e essa decisão foi tomada por motivos logísticos e dificuldades tributárias", disse a fonte da indústria, que falou sob condição de anonimato. "Ter uma operação completa de varejo? Esse é o objetivo", acrescentou.
Representantes de duas editoras locais disseram que suas empresas têm feito encontros e videoconferências recentemente para negociar contratos com o responsável por conteúdo do Kindle, Pedro Huerta. "Eles nos disseram que o plano é iniciar entre outubro e novembro", disse um dos representantes. Craig Berman, porta-voz da Amazon, se recusou a comentar o tema.
Maior varejista online do mundo, a Amazon é a mais recente empresa americana a buscar uma fatia do comércio via internet brasileiro, que movimentou US$ 10,5 bilhões em 2011. Espera-se que o segmento cresça 25% neste ano. Outras companhias incluem a de serviços de filmes Netflix e a de aluguel de casas AirBnB. Essa seria a mais recente incursão da Amazon em mercados emergentes, após ingressar na China em 2004 e na Índia no começo do ano.
Para o diretor da empresa de pesquisa eBit, Pedro Guasti, o mercado brasileiro online só atingiu agora proporções suficientes para representar algum interesse à Amazon. "Neste ano, devemos atingir US$ 12 bilhões em vendas, um nível que justifica a sua entrada. Se eles esperarem mais, o custo se tornará muito alto", disse.
A Amazon acredita que conseguirá dominar o mercado de e-books do Brasil com seu dispositivo de leitura, o Kindle, impulsionando as vendas de livros virtuais para 15% do mercado editorial no primeiro ano de operações, ante 0,5% atualmente, disse a fonte com conhecimento dos planos da empresa.
A Amazon espera controlar 90% do mercado de e-books no Brasil, adicionou a fonte, parcialmente porque muitos brasileiros já baixam conteúdo de seu site utilizando dispositivos de leitura comprados no exterior.
Brasileiros respondem por 1% do tráfego mundial aos sites da Amazon. Isso se compara a 2,3% no Reino Unido e 1,3% na Alemanha, onde a empresa já opera.
Para adquirir fatia de mercado rapidamente no Brasil, a Amazon provavelmente venderá o Kindle a um preço subsidiado de R$ 500 (US$ 239) - três vezes mais caro que nos Estados Unidos, mas abaixo de produtos rivais no mercado brasileiro.
A estratégia de priorizar participação de mercado e não lucro tem sido adotada pela Amazon em outros mercados, levantando críticas à habilidade de a companhia obter retorno de seus investimentos no longo prazo. A Amazon já assinou contrato com cerca de 30 editoras brasileiras e corre para estabelecer um portfólio de cera de 10 mil e-books até o Natal.
Uma editora envolvida nas negociações disse que a Amazon planeja vender seus e-books a cerca de 70% do preço de capa, com uma margem de lucro de 40% a 50%. "As receitas para nós serão insignificantes, mas vemos essa possibilidade como um canal importante para promover nossos produtos e vender mais livros físicos", disse um representante da editora.
Mas editoras e varejistas alertam que, quando expandir suas ofertas, a Amazon terá dificuldade de replicar seu modelo de negócios no Brasil, onde os custos trabalhistas são altos, os impostos complexos e menos de 20% das estradas são pavimentadas. "Eles terão de enfrentar os problemas que sempre tivemos", disse o diretor da Livraria Cultura, Sérgio Herz. "Até agora, eles estavam no paraíso e nós no inferno. Venha ao inferno conosco, Amazon."
Fonte: Por Esteban Israel / Reuters - O Estado de S.Paulo - 30/06/2012
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