Sistema “pague quanto acha que vale”, baseado em máquinas que vendem livros no metrô, contribui para incentivar a leitura em São Paulo e Rio de Janeiro
Não é novidade que o ramo cultural pode ser muito lucrativo: organização de shows, produção de eventos, cinema, moda... Mas será possível lucrar com algo já saturado como a literatura impressa? As recentes tecnologias virtuais (internet e e-books) talvez tencionem a resposta para o “não”, mas a ideia inovadora de um médico curitibano vem mostrando o contrário.
Em 2003, Fábio Bueno Netto decidiu investir na democratização da venda de livros de uma maneira diferente: através de máquinas colocadas em estações do metrô do Rio de Janeiro e São Paulo. Livros com temas variados (desde clássicos e obrigatórios para vestibular a livros de culinária e infantis) passaram a ser vendidos em alguns dos pontos das cidades com maior circulação de pessoas e de forma criativa, em máquinas normalmente usadas para refrigerantes e chocolates. Além do formato inovador, os preços eram baixos – isso porque o investimento se dava com uma lógica de preços reduzidos a partir da compra em escala.
A novidade de vender livros com a mesma acessibilidade de chocolates ou refrigerantes em pontos populares já foi suficiente para gerar atratividade para a ideia. Mas, recentemente, a empresa adotou o modelo de “Pague quanto acha que vale”. As máquinas que trabalhavam com preços baixos, mas tabelados, passaram a aceitar o valor que o comprador estava disposto a pagar.
Os livros só podem ser comprados com cédulas, portanto o preço mínimo por obra é de R$2 – valor que está abaixo das tarifas do metrô e mesmo de um refrigerante. Netto explica que a alta adesão do público foi responsável pelo sucesso do negócio. “Mesmo comprando mais barato em atacado, o ganho sobre cada exemplar é muito pequeno, pois a maioria dos compradores paga o preço mínimo (a média é de R$2,05 por exemplar). O lucro veio a partir da venda em escala”, diz.
Com investimento inicial de R$600 mil, as máquinas chegaram a vender mais de 70 mil exemplares só em julho deste ano. O sucesso pode ser comprovado através da resposta do consumidor. “Fiz uma pergunta num auditório cheio da USP: quem de vocês comprou livros de leitura obrigatória para o vestibular nas máquinas da 24x7? E fiquei engasgado e com os olhos mareados quando mais de 65% das pessoas levantaram a mão”, confessa Fábio.
Fábio Bueno Netto desenvolve esse viés cultural em sua empresa, a 24x7 Cultural. O negócio da empresa é justamente unir lucro com responsabilidade social, incentivando o consumo de literatura a partir de um entendimento de democratização e acesso à cultura. Agora, além do estímulo à leitura, a empresa tem um projeto único no mundo de incentivo à escrita pelo qual estão sendo descobertos diversos novos autores.
Literatura como homenagem
Além do “Pague quanto acha que vale”, a empresa criou um novo projeto, com a produção de livros personalizados para datas comemorativas, que traz o conceito de livro como objeto de valor sentimental. Para presentear de maneira única pai, mãe e namorados, livros com histórias de relacionamentos são produzidos de maneira personalizável. Qualquer pessoa pode escrever sua história a partir do site http://www.aprendicommeupai.com.br e uma edição única é produzida.
Sobre a 24x7 Cultural
A 24x7 é uma empresa cultural com fins lucrativos que começou a partir da ideia de comercializar livros feitos em larga escala. O primeiro projeto começou em 2003 e foi possibilitado pela grande tiragem de títulos, que faz com que os valores por obra sejam baixos. Agora, já existem máquinas temáticas como o de leituras obrigatórias para o vestibular e projetos de literatura personalizada, como os livros para homenagear os pais, mães e namorados. A empresa tem por missão facilitar a formação de novos leitores, incentivar o hábito de leitura de forma sustentável e melhorar índices de alfabetização funcional no Brasil.
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