Novos pontos de venda, mudanças tecnológicas e legislação ultrapassada afetam bancas de jornais na capital paulista; editores se preocupam com venda avulsa
A cada dia útil, uma banca fecha ou é ameaçada de fechamento na capital paulista, apontam números do Sindicato dos Vendedores de Jornais e Revistas de São Paulo (SindjorSP). Segundo a entidade, em 2007 a capital paulista tinha mais de cinco mil bancas. Hoje, são menos de 3,9 mil, pouco mais da metade do que existe em Buenos Aires, na Argentina. Em 2012, afirma o presidente do SindjorSP, Ricardo Lourenço do Carmo, a fiscalização se intensificou e o número de encerramento de bancas chega a duas por dia.
As razões são as mais diversas: da mudança do hábito de leitura dos paulistanos, que passaram a adotar as plataformas digitais, ao surgimento de novos pontos de venda, em supermercados, livrarias e lojas de conveniência. No entanto, a maior causa de fechamento das bancas na cidade é a legislação e a ação da prefeitura, que vem cassando os TPUs (Termo de Permissão de Uso) de dezenas delas ao mês.
Para as editoras de jornais e revistas, o cenário complica ainda mais o desempenho dos títulos, sobretudo aqueles que dependem da venda avulsa ou têm um apelo mais popular. Além do superpovoamento das bancas, as editoras também lidam com uma distribuição geográfica irregular e um modelo de negócios que nem sempre as favorece, alegam.
A lei que regulamenta as instalações das bancas em São Paulo é de 1986, da gestão do prefeito Jânio Quadros, e nunca foi alterada nem atualizada. Isso permite que se encontre uma série de brechas na legislação, as mesmas que estão sendo utilizadas para a cassação dos TPUs de bancas em diversas regiões da cidade. “Na lei é permitido vender fita VHS, mas não DVD. É permitido vender passe de ônibus, mas não bilhete único. Ficha telefônica pode, mas não cartão telefônico. Ou seja, são produtos que não são mais comercializados”, critica Carmo. De acordo com ele, o SindjorSP já apresentou um projeto à Câmara Municipal para que a lei seja atualizada há mais de um ano, mas até hoje nada foi feito.
Editoras como Escala e Alto Astral dependem majoritariamente da venda avulsa para garantir a circulação de seus títulos. Segundo Silvino Brasolotto, diretor comercial e de novos negócios da Editora Alto Astral, 98% da circulação das revistas da editora tem a venda avulsa como origem. Na Escala, esse percentual é de 80%, segundo Hercílio de Lourenzi, presidente do Grupo Escala de Publicações. Para eles, a alternativa diante dos obstáculos que as bancas de jornal vêm enfrentando foi aproveitar os novos pontos de venda.
Padarias, cafés, lojas de conveniência de postos de gasolina, supermercados e até quiosques em shoppings têm funcionado como opção à falência das bancas tradicionais. De acordo com Brasolotto, ano a ano a Escala tem crescido sua distribuição em pontos de venda alternativos. “São importantíssimos”, afirma, ressaltando, no entanto, que as bancas ainda são os maiores vendedores de revistas do grupo. Para Lourenzi, existe um processo persistente de perda de participação das bancas na venda avulsa. “A causa é a diminuição da quantidade de bancas que está acontecendo ano após ano”, lamenta.
Já para a Editora Abril, a venda avulsa em bancas de jornal significa 50% da circulação dos títulos. Para Fernando Mathias, diretor superintendente da DGB, holding de distribuição e logística do Grupo Abril, a dependência das bancas varia de acordo com a publicação e está ligada diretamente ao perfil de cada uma. “Os pontos alternativos atendem parte dos leitores que não frequentam os canais tradicionais, mas as bancas continuam a ser o principal canal de venda de publicações até mesmo porque oferecem o maior sortimento no mercado”, conta.
De acordo com Alexandre Buarque, diretor comercial de mercado leitor do Grupo Estado, as vendas em bancas cresceram 18% no primeiro semestre deste ano, comparado ao mesmo período do ano anterior. “A banca representa para o Estadão aproximadamente 10% de nossas vendas e para o JT, 31%. Sem dúvida, ela é um canal fundamental”, afirma.
O embate travado entre os jornaleiros e a prefeitura parece longe de acabar. “Hoje nada pode ser feito, a não ser recorrer à justiça por uma liminar. É o que estamos fazendo”, finaliza. Fernando Miziara, diretor-geral do Diário de S. Paulo, defende uma modernização das regras. “Defendemos uma nova legislação que regulamente o trabalho das bancas de jornal. Desde que não seja na base da informalidade, não vemos mal que a banca, que paga seus impostos, venda outros produtos, além de jornais e revistas”, explica.
Fonte: Por Nathalie Ursini – www.meioemensagem.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário