quarta-feira, 13 de junho de 2012

Há males que vêm para o bem

Fundada em 1967, a Gutenberg conta hoje com um portfólio centralizado nas impressoras japonesas Komori, além dos equipamentos para CtP, guilhotinas e acabamento de diversos fabricantes europeus. Entre vários bons assuntos, Klaus Tiedemann, diretor da Gutenberg, revela que a empresa se equivocou ao não entrar, no começo do ano 2000, no mercado de consumíveis.

De acordo com Tiedemann, a Gutenberg sempre achou que deveria se concentrar num segmento, ou seja, no de equipamentos. “Optamos em nos manter no segmento de equipamentos, mas a situação mundial, incitada  pela crise em 2008, não permite uma forma única de atuar”, observa Tiedemann.  

Claramente, o diretor da Gutenberg explica que a empresa atravessou, sim, uma fase conturbada e suas vendas de máquinas se reduziram em função do mercado. Corte de funcionário houve também, tudo estudado para reconduzir a empresa aos patamares ideais de sustentabilidade e eficiência.

Ao agregar a linha de consumíveis, tanto para offset como para digital, a Gutenberg, de acordo com seu comandante, retoma as rédeas de seu próprio negócio. E, de forma inédita, se reinventa apoiada na prosperidade.

Durante a entrevista, ficou no ar a grande possibilidade de parceria com uma fabricante mexicana de tintas. A empresa em questão – o nome não fora revelado – possui grande penetração no mercado americano, mas na America Latina ainda precisa de um parceiro forte. Aguardem cenas do próximo capítulo, mas deleitem-se com os fatos narrados por Tiedemann a seguir.      

Basicamente, o caminho é a linha de consumíveis. Tínhamos outra opção que era lidar com máquinas usadas importadas, pois, nesse momento, está muito acessível adquiri-las da Europa. Mas sabemos que esse caminho não favorece o desenvolvimento do Brasil. No quesito tintas podemos estabelecer uma joint-venture com uma fabricante de tintas mexicana que ainda não tem penetração na América Latina, mas que proporciona produtos de primeira linha.”

Por Fábio Sabbag - Editor da Revista GRAPHPRINT

Revista GRAPHPRINT: Os sopapos econômicos mundiais ecoaram na estrutura da Gutenberg?                

Tiedemann: A Gutenberg sempre procurou representar impressoras e todas as máquinas que uma gráfica necessita. Sempre contamos com um portfólio completo da pré-impressão ao acabamento.

Em 1998, a Gutenberg deixou de representar a Heidelberg, pois a fabricante alemã resolveu se estabelecer no Brasil. Hoje, contamos com um portfólio novo, centralizado nas máquinas impressoras da Komori. Há ainda guilhotinas,  CtP, acabamento, ou seja, tudo o que o gráfico precisa. Portanto, nosso portfólio considera máquinas europeias e muitas máquinas asiáticas de alta qualidade. As impressoras japonesas, por exemplo, são líderes de mercado, atualmente. Em linhas gerais essa é a trajetória da Gutenberg. Sempre adequamos o tamanho da empresa às situações econômicas do Brasil. Por isso, percorremos altos e baixos. Um bom exemplo é que, seguindo a tendência nos anos 80, quando a importação ficou complicada, fizemos a fábrica da A.Ulderigo Rossi. Dificuldades existem para serem vencidas; é preciso estar atento e adaptar-se ao momento. Em determinadas situações do País, é claro, o trabalho é facilitado e, em outras, fica mais complicado.

“Passamos por um processo de reformulação. O número de vendas de máquinas foi reduzido. Estávamos acostumados a vender, antes da crise, 60 máquinas ao ano e esse número caiu pela metade. Isso, obviamente, causou impacto negativo na Gutenberg, que sempre foi uma empresa concentrada na venda de equipamentos. Agora, então, agregamos serviços ao entrarmos no mercado de consumíveis. Relutamos, pois achávamos que uma empresa tem de se concentrar num segmento e optamos em ficar no de equipamentos. Mas a situação claramente não permite tal escolha. “

Devido à crise de 2008, o mundo teve de reduzir suas expectativas comerciais e a Gutenberg, assim como todos os outros fornecedores e fabricantes, teve de se readaptar. O consumo mundial caiu e nunca mais chegará ao patamar de 2008. O mundo mudou e a demanda ficou diferente; as pessoas estão se tornando menos consumistas.

Revista GRAPHPRINT: A crise mundial, então, não foi assintomática para a Gutenberg? A empresa passou ou passa por dificuldades?

Tiedemann: Passamos por um processo de reformulação. O número de vendas de máquinas foi reduzido. Estávamos acostumados a vender, antes da crise, 60 máquinas ao ano e esse número caiu pela metade. Isso, obviamente, causou impacto negativo na Gutenberg, que sempre foi uma empresa concentrada na venda de equipamentos. Agora, então, agregamos serviços ao entrarmos no mercado de consumíveis. Relutamos, pois achávamos que uma empresa tem de se concentrar num segmento e optamos em ficar no de equipamentos. Mas a situação claramente não permite tal escolha.

Nossos concorrentes entraram no setor de consumíveis há anos, com máquinas pequenas e por meio da criação de marcas próprias. A Komori, por exemplo, no Japão vende consumíveis e máquinas auxiliares de outros fabricantes desde o segundo semestre de 2011.

No Japão, a Komori tem sete filiais próprias e sete postos de venda que só comercializavam produtos da marca. Os japoneses descobriram que a ação não é condizente com a realidade, então suas filiais passaram a vender equipamentos, chapas, tintas, guilhotinas etc., de outras marcas. Logo, entendemos também que é um passo necessário ampliar a atuação para a venda de consumíveis, compensando, assim, a demanda reduzida de máquinas.

Revista GRAPHPRINT: A citada reestruturação passa por outros pontos, além da chegada da linha de consumíveis?

Tiedemann: Basicamente, o caminho é a linha de consumíveis. Tínhamos outra opção que era lidar com máquinas usadas importadas, pois, nesse momento, está muito acessível adquiri-las da Europa.  Mas sabemos que esse caminho não favorece o desenvolvimento do Brasil. Trazer equipamentos usados ao País é um desserviço; até vislumbramos que a importação poderia ser uma coisa rentável, mas por uma questão de ideologia descartamos.

No mercado de consumíveis, tanto para offset como para digital, temos mercados inexplorados que podem garantir o tamanho que a Gutenberg precisa para prestar um serviço excelente. E nesse momento temos o tamanho ideal para cobrirmos todo o território brasileiro.   

Revista GRAPHPRINT: A entrada na linha de consumíveis indica o desenvolvimento de uma linha própria?

Tiedemann: Estamos definindo isso ainda. Obviamente que serão produtos de primeira linha e que não tenham oferta demasiada. Na impressão digital, a Komori investiu muito tanto na linha OEM como em desenvolvimentos próprios. Mesmo assim, no momento, não pensamos em fabricar. Queremos trazer chapas e cortar as bobinas aqui, por exemplo. No quesito tintas podemos estabelecer uma joint-venture com uma fabricante de tintas mexicana que ainda não tem penetração na América Latina, mas que proporciona produtos de primeira linha.

Revista GRAPHPRINT: Então, a decisão por impressoras japonesas foi acertada?  

Tiedemann: Um grande ponto positivo foi a escolha por equipamentos japoneses. Hoje, sem dúvida, a tecnologia de impressão vem do Japão e, depois, vai para a Europa. As fábricas europeias começam a desenvolver o que vem do Japão. Com a crise, os fabricantes europeus investiram pouco e estão com menos recursos. É mais do que natural que os japoneses passem na frente. Na indústria automotiva, por exemplo, há vários acessórios que foram lançados há três anos no Japão e os europeus estão trazendo agora. O conceito de cópia, que definiu o oriente por muitos anos, já é passado e ultrapassado. A aceitação da Komori no Brasil é muito grande, tanto que muitos clientes pagam o custo mais alto da máquina japonesa. O que tem mais tecnologia custa mais. Os clientes estão dispostos e pagam por isso. Assim, criamos o conceito de decisão pela tecnologia, não pelo preço.

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