Nós,
gráficos, assim como os personagens fantásticos da escritora alemã Cornélia
Funke na trilogia inaugurada com o livro Coração de Tinta, também trazemos em
nós a capacidade de materializar histórias, ideias e todo tipo de informações.
Diferentemente deles, porém, fazemos isso sem magia. Mas com arte – com arte
gráfica. Cada livro, revista, embalagem, rótulo, cartaz que sai das nossas
máquinas é uma representação da competência e da capacidade técnica e
tecnológica das indústrias e dos profissionais gráficos brasileiros.
Infelizmente,
porém, no mesmo mês em que se comemora o Dia do Gráfico (7 de fevereiro),
projeções do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) indicam que a
indústria gráfica perdeu 5.684 postos de trabalho em 2013. Caso o número se
confirme, o setor terá fechado o ano com 218.960 postos de trabalho, uma
retração de 3% em relação aos 224.644 empregos registrados em 2012. O segmento
editorial concentrou 42% dessas perdas, ou seja, 3.312 postos de trabalho.
Por
ironia, a atividade de maior desemprego foi também aquela em que o Brasil mais
exportou empregos e tributos. Dito assim, parece bizarro. Mas é o que se
constata quando se coloca, lado a lado, a curva de emprego e os números das
importações brasileiras de produtos gráficos.
No
mesmo período em que perdíamos mais de 3 mil vagas, o País despreocupadamente
importava 28 mil toneladas de itens editoriais, 34% do total de produtos gráficos
importados, correspondentes a um montante de US$ 185,9 milhões. China (28%),
Hong Kong e Estados Unidos (com 15% cada) foram os principais beneficiados
pelas compras brasileiras. O quadro piora ao lembrarmos que, em grande parte
dessas importações, os produtos entraram no País gozando de isenções de PIS e COFINS,
que, até hoje, não foram estendidas à indústria gráfica nacional e oneram em
9,25% os livros e revistas que imprimimos.
Temos
competência interna para responder a essa demanda. Só em 2013, investimos perto
de US$ 1,17 bilhão em máquinas e equipamentos, 80% dos trabalhadores contratados
possuem de ensino fundamental completo a ensino médio completo, possuímos um
padrão salarial elevado (de R$ 1 mil a R$ 7 mil) e realizamos treinamentos e
atualizações constantes dos colaboradores (variando de acordo com o porte,
entre 26,9% e 100% das empresas gráficas realizaram treinamentos e reciclagens,
em 2013).
No
Brasil, mais de 90% das empresas gráficas têm até 19 funcionários. Os
comprometimentos de competitividade atingem igualmente trabalhadores e
empresários. Recuperar a isonomia tributária na área editorial, pela adoção de
alíquota zero de PIS e COFINS na confecção de livros e revistas, e a adoção de
margem de preferência nas compras públicas de cadernos e livros nacionais são
bandeiras que podem (e devem) ser compartilhadas por todos aqueles que, desde
sempre, já partilham da mágica realizadora de um coração de tinta.
*Presidente
da Regional São Paulo da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf-SP).
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