Empresa não poderá vender livros com
descontos de 5% e frete gratuito por prejudicar livreiros menores
Fonte: Andrei Netto, correspondente / Paris
- O Estado de S.Paulo
O
Senado da França aprovou, por unanimidade, um projeto de lei que proíbe
revendedores de livros por e-commerce de acumular dois benefícios ao
consumidor: descontos generalizados de 5% sobre o preço de tabela de cada
exemplar e a entrega gratuita.
O texto não faz referências específicas, mas tem
alvo certo: Amazon. Nos últimos 10 anos, a empresa americana conseguiu
abocanhar 80% do mercado de livros vendidos pela internet oferecendo as duas
vantagens: redução de preço e entrega gratuita.
A
decisão do Senado foi aprovada por unanimidade. Desde 1981 a legislação fixa o
preço dos livros na França ao valor estabelecido por seus editores. Ao
vendedor, cabe o direito de conceder no máximo 5% de desconto. A lei vigorou
sem contestações até o comércio eletrônico se intensificar, nos últimos 15
anos. Ao chegar à Europa, a Amazon trouxe consigo a mesma política dos Estados
Unidos: a entrega gratuita.
Na
prática, o gigante do e-commerce americano se igualou em condições às livrarias
físicas e aos livreiros independentes, com duas vantagens: a facilidade de
encontrar um livro e a comodidade de recebê-lo em casa, sem custos adicionais.
O
resultado foi um crescimento avassalador das vendas, com a generalização da
internet e de smartphones. Em 2013 o mercado conquistado pelas livrarias
digitais chegou a 17% - e 80% do total cabe à Amazon, que supera a francesa
Fnac.
Crise
Com isso, 3,5 mil livrarias e livreiros independentes da França - a maior
densidade do mundo por habitante - sofrem a concorrência. A crise gerou
protestos, e o Ministério da Cultura do governo socialista de François Hollande
elaborou o projeto de lei para "equilibrar" comércio digital e
físico. O resultado foi o texto aprovado ontem.
Embora
a medida tenha impacto direto para o consumidor, que pagará mais, a ministra da
Cultura, Aurélie Filippetti, comemorou. "Esta lei não existe para travar a
venda de livros online, mas para garantir uma concorrência justa",
argumentou a ministra pelo Twitter.
Ao
jornal Le Monde, Guillaume Husson, delegado do Sindicato de Livrarias Franceses
(SLF), menosprezou o aumento de preços para a Amazon. "A lei é um símbolo
muito poderoso, se lembramos que a propaganda da Amazon e da Fnac gira
essencialmente em torno da gratuidade", entende. "Mas o livro será
sempre mais caro na livraria do que na internet."
A
Amazon lamentou a decisão. "Toda medida visando a aumentar o preço do
livro na internet penaliza antes de mais nada o consumidor francês, reduzindo
seu poder de compra", respondeu a empresa.
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