Por Fabio Arruda Mortara*
Estudo
do Departamento de Economia da Associação Brasileira da Indústria Gráfica
(Abigraf) mostra a relação direta entre a paulatina elevação da Selic e a
redução de crescimento do PIB. Além dos juros altos, mantidos na reunião do
Copom dos dias 25 e 26 de fevereiro, como um amargo remédio do Banco Central
para conter a inflação ante o desequilíbrio fiscal do Estado, este problema
crônico do Estado gastar mais do que arrecada e as incertezas quanto à energia elétrica
provocam estimativa de queda no volume de impressos em 2014.
A
produção física da indústria gráfica brasileira, constituída por mais de 20 mil
empresas, empregadoras de aproximadamente 225 mil trabalhadores, deverá recuar
1,7% este ano, depois de quedas consecutivas de 6,7% em 2013 e 4,3% em 2012. No
ano passado, os produtos gráficos editoriais, com redução de 12,1%, foram os
principais responsáveis pelo resultado negativo, enquanto os impressos
comerciais contribuíram para evitar quebra ainda maior, crescendo 3,5%.
Essa
estimativa pessimista deve-se aos
seguintes fatores: juros altos, a política fiscal inadequada do governo,
as incertezas na Argentina, responsável por 8% das exportações brasileiras, a
insegurança quanto à oferta e as tarifas de energia elétrica e a nova política
monetária dos Estados Unidos. O setor público, incluindo estados e municípios,
que sequer cumpriram as metas do superávit primário, não está fazendo a lição
de casa da responsabilidade fiscal. Por isso, o governo tem de manter os juros
em patamar elevado para segurar a inflação, como tem ocorrido sucessivamente a
cada anúncio da taxa anual da Selic.
Nesse
cenário de incertezas, torna-se mais difícil recuperar a competitividade da
indústria brasileira. Não é sem razão que, nos dias que antecedem à divulgação
periódica da taxa de juros, os empresários ficam ansiosos e perdem o sono. A
fragilização da capacidade de competir, que afeta toda a indústria de
transformação nacional, reflete-se também na balança comercial do setor
gráfico: em 2013, o déficit foi recorde, atingindo US$ 269,5 milhões, com
aumento de 13% em relação aos US$ 238,6 milhões registrados em 2012. As exportações foram de US$ 279,1 milhões,
menos 6% em relação aos US$ 298,1 milhões do ano anterior.
As importações
cresceram 2%, passando de US$ 536,8 milhões para 548,6 milhões.
Quanto
aos investimentos em máquinas e equipamentos, de US$ 1,17 bilhão, em 2013,
houve recuo de 3% na comparação com o valor de US$ 1,21 bilhão aportado em
2012. Nos últimos sete anos (desde 2007), o setor investiu US$ 9,41 bilhões, o
que lhe garantiu atualização tecnológica e qualidade competitiva com qualquer
parque gráfico mundial. No entanto, os fatores internos do Brasil dificultam
muito a disputa com gráficas de outros países.
Os
números da indústria gráfica mostram a premência de o governo cortar mais os
seus gastos e deixar de colocar toda a responsabilidade do controle da inflação
nos ombros do Banco Central, que não tem outro remédio senão aumentar os juros.
*Presidente da Associação Brasileira da
Indústria Gráfica (ABIGRAF Nacional) e do Sindicato das Indústrias Gráficas no
Estado de São Paulo (SINDIGRAF) e coordenador do Comitê da Cadeia Produtiva do
Papel, Gráfica e Embalagem (Copagrem) da Fiesp
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