quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Juros e ônus do Brasil derrubarão produção das gráficas em 2014


                                                           Por Fabio Arruda Mortara*

Estudo do Departamento de Economia da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf) mostra a relação direta entre a paulatina elevação da Selic e a redução de crescimento do PIB. Além dos juros altos, mantidos na reunião do Copom dos dias 25 e 26 de fevereiro, como um amargo remédio do Banco Central para conter a inflação ante o desequilíbrio fiscal do Estado, este problema crônico do Estado gastar mais do que arrecada e as incertezas quanto à energia elétrica provocam estimativa de queda no volume de impressos em 2014.    

A produção física da indústria gráfica brasileira, constituída por mais de 20 mil empresas, empregadoras de aproximadamente 225 mil trabalhadores, deverá recuar 1,7% este ano, depois de quedas consecutivas de 6,7% em 2013 e 4,3% em 2012. No ano passado, os produtos gráficos editoriais, com redução de 12,1%, foram os principais responsáveis pelo resultado negativo, enquanto os impressos comerciais contribuíram para evitar quebra ainda maior, crescendo 3,5%.

Essa estimativa pessimista deve-se aos  seguintes fatores: juros altos, a política fiscal inadequada do governo, as incertezas na Argentina, responsável por 8% das exportações brasileiras, a insegurança quanto à oferta e as tarifas de energia elétrica e a nova política monetária dos Estados Unidos. O setor público, incluindo estados e municípios, que sequer cumpriram as metas do superávit primário, não está fazendo a lição de casa da responsabilidade fiscal. Por isso, o governo tem de manter os juros em patamar elevado para segurar a inflação, como tem ocorrido sucessivamente a cada anúncio da taxa anual da Selic.

Nesse cenário de incertezas, torna-se mais difícil recuperar a competitividade da indústria brasileira. Não é sem razão que, nos dias que antecedem à divulgação periódica da taxa de juros, os empresários ficam ansiosos e perdem o sono. A fragilização da capacidade de competir, que afeta toda a indústria de transformação nacional, reflete-se também na balança comercial do setor gráfico: em 2013, o déficit foi recorde, atingindo US$ 269,5 milhões, com aumento de 13% em relação aos US$ 238,6 milhões registrados em 2012.    As exportações foram de US$ 279,1 milhões, menos 6% em relação aos US$ 298,1 milhões do ano anterior. 

As importações cresceram 2%, passando de US$ 536,8 milhões para 548,6 milhões.
Quanto aos investimentos em máquinas e equipamentos, de US$ 1,17 bilhão, em 2013, houve recuo de 3% na comparação com o valor de US$ 1,21 bilhão aportado em 2012. Nos últimos sete anos (desde 2007), o setor investiu US$ 9,41 bilhões, o que lhe garantiu atualização tecnológica e qualidade competitiva com qualquer parque gráfico mundial. No entanto, os fatores internos do Brasil dificultam muito a disputa com gráficas de outros países.

Os números da indústria gráfica mostram a premência de o governo cortar mais os seus gastos e deixar de colocar toda a responsabilidade do controle da inflação nos ombros do Banco Central, que não tem outro remédio senão aumentar os juros.


*Presidente da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (ABIGRAF Nacional) e do Sindicato das Indústrias Gráficas no Estado de São Paulo (SINDIGRAF) e coordenador do Comitê da Cadeia Produtiva do Papel, Gráfica e Embalagem (Copagrem) da Fiesp

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